A Mulher da Curva da Morte

A Mulher da Curva da Morte

 Os idosos de Rio Branco contam que existe uma linda mulher vestida de branco que aparece na Curva do Tucumã, na estrada que liga a capital do Acre ao Município de Senador Guiomard. Esta estória é conhecida por muitos acreanos, que dizem ser história verdadeira, e que muitos motoristas já a viram.

 Alguns chegaram a suas casas ilesos, após vê-la, já outros… não tiveram a mesma sorte!

 Numa daquelas muitas noites em que a luz apagou em Rio Branco e toda a família foi para a frente da casa sentar-se sob a luz da lua, afim de ouvir Seu Raimundo, que foi seringueiro e conhecido pelos amigos por gostar de contar muitos causos. Essas estórias que passam de boca em boca e se tornaram lendas, incorporadas no imaginário popular.

 Seu Raimundo contou que um dia estava com um amigo numa pequena pensão da Vila Quinarí (antes de ser município Guiomard), ambos retornavam para Rio Branco. Lá pelas tantas, após a janta, resolveram pegar a estrada. Severiano, o amigo, era o motorista e não queria chegar em Rio Branco muito tarde. Havia uma estrada difícil à noite e também a perigosa curva do Tucumã, muito conhecida por aquelas bandas como a “estrada da morte”. Eles queriam passar da curva antes da meia-noite.

 Todos nós sabemos que após um bom prato de comida vem um pouco de sono e, na estrada todo cuidado é pouco para não dormir ao volante. A lua estava bonita, aparecendo acima da floresta escura e iluminava a estrada de barro batido. Era mês de agosto, todos no Acre contam cada dia desse mês, esperando que ele acabe logo e com ele vá junto o medo das desgraças, dos acidentes e da morte.

 Severiano liga o rádio, procura uma música embalada para espantar o sono e olha atentamente a estrada. É muito comum animais grandes como onça ou capivara atravessarem o caminho de repente e muitos motoristas são pegos de surpresa, o que ainda atualmente causa muitas vezes, graves acidentes. Mas… naquela noite, quem apareceu de supapo na estrada foi a mulher de branco, com um vestido esvoaçante, à luz da lua ela pedia carona à beira da estrada. Já sabendo sua fama, o coração do motorista acelerou e o carro também, pois o pé de Severiano sem querer pisou o acelerador.

 – O Sr. viu isso, Seu Raimundo?

 – O quê, Severiano? Eu não vi nada! – Respondeu-lhe o acompanhante de viagem.

 – A mulher de branco! Estava bem ali atrás, pedindo carona!

 – Dizem que é muito bonita. Se eu fosse você daria carona para ela. Disse-lhe brincando o Sr. Raimundo.

 – Deus me livre e guarde! Estou tremendo mais que vara verde!

 Falando isso, acelerou muito mais o carro. A curva se aproximava e Seu Raimundo temendo um acidente, advertiu-lhe:

 – Vá devagar, homem de Deus! A curva da morte é logo mais, depois desse estirão. Quer nos matar?

 No entanto, Severiano não o ouvia, tremendo de medo e já suando, o pobre motorista acabara de ver pelo retrovisor, a linda mulher de branco, sentada no banco de trás do automóvel. Sentiu um frio congelante na espinha e os cabelos arrepiaram. Segurou forte no volante e fincou o pé. Adentraram na famosa “curva da morte” e o carro derrapou por conta da velocidade. O barulho dos pneus e os movimentos bruscos do carro assustaram Seu Raimundo, que já imaginou o carro capotando e a poeira subindo:

 – Valha-me, São Expedito! – Gritou.

 Severiano de olhos esbugalhados fixados na estrada, conseguiu finalmente equilibrar o carro com muito custo e esforço.

 Passado o primeiro impacto do susto, já após a curva, Severiano olhou novamente pelo retrovisor. A mulher de branco havia desaparecido. Seu Raimundo tagarelava sem parar ao seu lado, falando do perigo que passaram e do poder de São Expedito, o santo das causas impossíveis, mas o motorista continuou mudo, impactado pelo acontecido, só dirigia, ainda em velocidade. Segundo Seu Raimundo foi assim que se salvaram da mulher de branco e chegaram vivos a Rio Branco, em pleno mês de agosto.

Lenda urbana do imaginário popular contada por meu pai que foi seringueiro do Acre – Raimundo Coleta (Em memória).

 

Por MAZE OLIVER

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