A esposa, enlouquecida, irritada andava de um lado para outro sem parar. Pensou em quebrar mais algumas coisas para aliviar a tensão.
Resolveu que não. Pegou o carro, saiu em disparada.
Parou, sem saber onde estava, e ligou desesperada para uma amiga.
– Reclamou por horas a fio, por telefone.
A amiga cochilava vez ou outra.
Entretanto, preocupada, pediu para que fosse para casa dela passar lá a noite.
Mas como ir?
Não sabia onde estava.
Avistou um carro da polícia. Poderia ser a salvação.
Não era.
Tudo começou algumas horas antes em um jantar que o casal oferecia à amigos mais chegados.
O marido tinha um traço de personalidade intrigante.
Era muito meticuloso e, vez ou outra, distraia-se sem saber bem o que dizer e, nessas ocasiões, confuso, sem ninguém perguntar, informava as horas.
– São 9 horas.
Um pouco depois, em meio à uma conversa sobre os rumos da economia, informava:
– São 10 horas e 30 minutos.
As pessoas olhavam-lhe espantadas sem saber o que dizer.
Novamente: são 11 horas.
Os convidados começaram a pensar, equivocadamente, que tratava-se se uma “convite velado” para que tomassem o rumo de suas casas, entretanto o jantar estava em pleno andamento, e iriam saborear uma deliciosa codorna.
A esposa, já irritada, bebia taças e mais taças de deliciosa champanhe de altíssima qualidade.
– São 12 horas. Naquele momento, os convidados começaram a se sentirem profundamente incomodados.
Lentamente, um a um, foram se despedindo e indo embora, com as desculpas mais improváveis possíveis.
A esposa enlouquecia aos poucos.
Começou uma discussão com o marido, ainda em meio aos convidados, possivelmente pelos efeitos do álcool.
– Você parece um relógio Cuco.
– Vou te chamar a partir de agora de Cuco.
– Só informa as horas e com esta atitude acabou com o nosso jantar.
O marido tenteava, em vão, contemporizar:
– Você sabe querida….
– Não quero saber de nada, já jogando um prato no chão.
E saiu para fora da casa, pegou o carro, onde voltamos à nossa história.
O policial se aproximou.
Percebeu, por experiência, que a jovem mulher não estava em um estado normal.
Adotados os procedimentos de praxe, verificou um nível elevado de álcool.
Sendo conduzida à delegacia.
A amiga desesperada ligava ininterruptamente.
O marido chegando, e sendo recebido aos tapas, uma briga em plena delegacia. Ele informava: São 3 horas e 30 minutos da manhã.
Por Eduardo Chiarini