Olá, querido leitor!
Nos últimos três dias, posterguei a redação deste texto para a coluna. Não foi por falta de temas, mas sim porque nenhuma das opções anotadas em meu caderno de ideias, conseguia tocar meu coração a ponto de inspirar a partilha de algo genuíno com você. Contudo, resolvi deixar que a inspiração viesse de forma natural, sem colocar mais ansiedade do que já havia colocado, anotei com caneta vermelha na minha agenda:
“Coluna Alma em Perspectiva, texto enviado” e não pensei mais sobre o assunto.
Hoje pela manhã, enquanto passava meu rímel na esperança de deixar meu olhar mais expressivo, notei algo que há tempos não me dedicava a compreender: o meu próprio olhar. Bingo! Foi nesse momento que a inspiração surgiu!
Certamente, você já ouviu a expressão “os olhos são as janelas da alma” que já foi atribuída a diversos autores ao longo da história. Portanto, sua origem exata é difícil de determinar, e nesse momento, não é relevante. Mas se acaso souber, peço que me conte depois.
Tal expressão é empregada para transmitir a ideia de que os olhos revelam profundidades emocionais e a verdadeira essência de uma pessoa. A metáfora, figura de linguagem que gosto muito de usar, destaca a conexão entre o olhar e a alma, sugerindo que, ao observar os olhos de alguém, é possível ter uma visão autêntica de seus sentimentos e pensamentos.
Para ilustrar essa ideia, escolhi a obra “Anjo Caído”, do renomado artista francês Alexandre Cabanel. Aliás, devo confessar que sinto certa paixão e encantamento por essa obra, pois é uma criação que transcende as fronteiras entre o céu e a terra, entre a tristeza e a raiva, entre e o amor e o ódio, capturando um momento de transgressão celestial.
A riqueza da pintura na figura de um anjo, outrora imaculado e celestial, agora prostrado e caído dos domínios celestiais, reside não apenas na habilidade técnica de Cabanel, mas também na expressão fascinante do olhar do anjo, cumprindo um papel categórico ao conectar a pintura com o ponto de vista da “janela da alma”.
Os olhos do anjo, pintados com maestria, carregam uma dualidade perturbadora. Há um misto de tristeza e resignação, mas também uma faísca de rebeldia e questionamento. O olhar, neste contexto, nos leva ao vislumbre da alma do personagem retratado. É como se o observador pudesse penetrar nas camadas emocionais do anjo caído, decifrando as particularidades de sua queda e os conflitos internos que se desdobram.
Ao considerarmos a conexão entre o olhar e a janela da alma, a pintura de Cabanel destaca a capacidade dos olhos de revelar verdades íntimas. O artista, por meio da expressão cuidadosamente trabalhada no rosto do anjo, nos convida a contemplar não apenas a beleza visual da cena, mas a essência emocional implícita. Os olhos, nesse contexto, são portais que conduzem a uma compreensão mais profunda da narrativa representada na tela.
Assim como a frase “os olhos são as janelas da alma” sugere, o olhar do anjo caído transcende a mera representação visual, nos proporcionando uma revelação emocional, instigando nossa própria alma observadora a questionar as complexidades da condição humana, mesmo quando retratada em um ser celestial. Em “Anjo Caído”, cabanel não apenas pinta uma cena, mas fala diretamente com nossa alma e nos convidando a refletir sobre as dimensões mais profundas do nosso ser.
Através dos olhos, somos capazes de desvendar emoções, segredos e até mesmo a verdadeira essência de alguém. Mas será que realmente nos permitimos mergulhar nesse universo e nos entregar à experiência de contemplar e compreender o que se esconde por trás de um olhar? Pense nisso, amigo leitor.
Muitas vezes, a correria do dia a dia nos impede de apreciar a magia contida no simples ato de olhar nos olhos de alguém. E, mais desafiador ainda, olhar verdadeiramente para nossos próprios olhos. Não estou falando de um mero reflexo no espelho, mas da realização de uma introspecção profunda, permitindo que a alma se revele sem disfarces.
A contemplação do próprio olhar é um convite à sinceridade consigo mesmo. É um mergulho nas águas turvas dos sentimentos, onde a transparência é a única regra. São inúmeras às vezes que fugimos desse encontro íntimo, distraídos pela superficialidade do cotidiano. Observar-se é mais do que um exercício visual; é uma jornada de autoconhecimento, uma oportunidade de se entregar à complexidade de nossos próprios sentimentos.
Antes de começar a escrever esse texto, dediquei alguns instantes para contemplar a obra, em seguida, me deparei com o espelho. Notei no meu olhar todo amor que sinto pela figura do Anjo Caído e compreendi que esse amor não fala apenas da beleza da pintura, mas de meus próprios sentimentos, que são muitas vezes controversos.
Tenho sentimentos semelhantes ao anjo sempre que me sinto injustiçada, experimento amor e ódio, tristeza e alegria, confiança no Divino e, por muitas vezes, revolta por permitir tanto sofrimento no mundo. Compartilho da mágoa por não ser correspondida da forma que gostaria e, muitas vezes, não compreendo as dores às quais sou submetida e o tempo que leva para curar minhas feridas.
É como se os olhos se transformassem em espelhos da alma, refletindo o âmago do ser, num convite à reflexão sobre quem somos no aqui e agora. Quando permitimos esse olhar profundo, desvendamos camadas de emoções guardadas no íntimo, decifradas pela linguagem única que só os olhos conseguem expressar.
Neste espaço dedicado à alma, te convido a permitir o vislumbre de sua essência, sem julgamento ou limitação. Explore, sob diversas perspectivas, todas as possibilidades de ser autêntico e não hesite em se descobrir e se aceitar plenamente, permitindo assim que sua alma se liberte de todas as formas de amarras que possam aprisioná-la.
Aproveitando a oportunidade, quero te convidar para me acompanhar nas redes sociais e compartilhar suas ideias. Será um prazer conhecer suas perspectivas.
Nos vemos em breve!
Por MIA KODA