Saí do metrô, na estação Cipro. Segui, lentamente, pela Via di Domizia Lucilla. Por razão desconhecida, a não ser a da velhice precoce, senti-me cansado. Ao chegar ao Parque Monte Ciocci, sentei-me em um dos seus bancos, bem próximo do velho e moribundo cipreste. Os olhos fugiam-me dos pensamentos e alugavam a sua vista aos prazeres remotos de uma distância invisível. Tudo observava, nada absorvia. Um encanto inesperado sacudiu-me a moleza. Uma borboleta de cores infinitas versejava à minha volta, poemas de beleza singular. Subitamente, ausentei-me para o interior do bailado que a borboleta tecia em vistosos círculos. A borboleta acariciou-me o olhar e pediu-me com uma voz encantatória que a levasse comigo. Que escolhesse onde, disse-lhe eu, embaraçado por desconhecer o que pretendia aquela beleza da natureza. Que abrisse a minha mão e a deixasse pousar nela. Estendi a mão aberta, ela pousou, suavemente, e pediu-me que a escondesse no bolso interior do meu blusão. Vais sufocar, disse-lhe eu, receoso. Disse-me que não me preocupasse porque as suas cores eram bolsas de ar. Como, entretanto, entardecera, levantei-me e, com passos rápidos, nem eu sabia porquê, desci a Via Cesare de Fabrittis, cheguei ao Appiano e apanhei o primeiro trem que me levou para casa. Durante todo percurso, uma miríade de melopeias escondeu-se nos meus ouvidos, avivaram memórias de um futuro sem passado. Mal cheguei a casa, a borboleta abandonou o meu bolso, pediu-me que a afagasse e a colocasse na minha mesinha de cabeceira. Que fosse dormir, disse-me ela. Deitei-me e não tardei a adormecer. Sonhos de lugares e de pessoas de uma beleza estonteante passearam-se, sorridentes, pelos corredores de uma morte inofensiva, até que senti a borboleta abandonar o meu corpo, em um voo elegante e singular, que me acordou do sono profundo em que mergulhara. Para meu grande espanto, todo o quarto estava sob a intensidade de uma luz espantosa. No meio do quarto encontrava-se uma bela mulher que trajava um vestido comprido, luzindo como ouro, os cabelos longos, brilhando como raios de sol e uns olhos claros e límpidos como água. Belas lágrimas escorriam-lhe pelo rosto.
– Não te preocupes, são lágrimas de felicidade. Eu venho de um tempo em que não há tempo. Eu e outros, como eu, somos o orvalho do Universo. Quando a madrugada te acordar, em borboleta me encontrarás. Abre a janela que eu partirei a caminho de um outro qualquer destino. Quando chegar o tempo de partires em teu regaço me aninharei e mil e uma canções te cantarei. Agora é chegado o tempo de voltares a dormir. Mal a madrugada chegou, levantei-me e abri a janela. A borboleta levantou voo, bailou à volta de mim e esfumou-se na névoa da manhã. Nunca mais voltei a ser o mesmo. Os meus olhos são borboletas de sonhos sedutores.
Por RENATO CRESPPO