CONTOS E MINICONTOS – A Stalker por Adriana Teixeira Simoni

CONTOS E MINICONTOS – A Stalker por Adriana Teixeira Simoni

Aquela semana estava correndo perfeita, tudo se desenrolava bem. Até aquela mensagem que Toninha esperava no privado da rede social chegou, e chegou com um bônus, chegou com um convite especial para incrementar o seu final de semana.

Ela se animou demais com as possibilidades desse convite e já começava a viajar nas suas emoções intensas e sonhadoras. Ela não sabia o que eram pés no chão, nem tão pouco a expressão: “Não vá com muita sede ao pote.” Mas, com certeza não se importava nada com uma outra expressão famosa: “Cuidado com o que os outros vão pensar.”

Durante os últimos vinte dias Toninha havia investido de “stalker”. Havia se tornado uma detetive de redes sociais. Ela começou a investigar uma possível paquera, já que não sabia bem ao certo se a pessoa era solteira ou comprometida. Porém, sempre que via a foto dessa pessoa como sugestão para seguir na sua rede social, gostava muito do que via, a beleza daquela mulher lhe chamava bem atenção.

Na verdade, Toninha não era muito experiente com a questão de redes sociais para implementar conquistas ou usar seus atributos sedutores. E, as tentativas de usar os aplicativos de relacionamento não lhe agradaram. Todos aplicativos para esse fim eram bastante caros e complicados, açulavam a curiosidade, todavia cobravam altos valores pelos serviços de entrega de mensagens aos pretendentes. Já pelas redes sociais, era possível entrar em contato gratuitamente o que acabava dando mais chances de acontecer o famoso “match”, um termo inglês para resumir um encontro que deu certo entre duas pessoas que combinaram, ou se curtiram mutuamente.

Por mais dedicação que colocou ao buscar informações pelas postagens, conversas e stories da pessoa, Toninha não conseguia encontrar muita coisa. Apenas ficou sabendo que ela gostava de teatro, estava num conservatório de música erudita e participava de uma camerata de cordas. Seu instrumento era um Violoncelo e também tocava violão como hobbie, pois havia um vídeo dela cantando uma canção de Caetano Veloso acompanhada do seu próprio violão. Achou a voz dela bonita também.

Bom, já que por meio das buscas profundas nas postagens públicas não foi possível encontrar informações que davam conta do estado civil daquela pessoa, o negócio era investir numa conversa, e entrar logo no assunto de forma indireta. Colada em uma das postagens da camerata de cordas, interpôs elogios e também o seu gosto por música erudita, e logo depois, fez outros comentários mais pessoais buscando intimidade em uma conversa reservada.

Conversa vai, conversa vem por meio de mensagens, que na verdade não demoravam muito, houve um momento que ao questionar a sua saída da camerata de cordas, a resposta a esta abordagem retornou em forma de áudio e neste áudio a pessoa entregava que havia saído da camerata de cordas devido ao rompimento de um relacionamento afetivo.

Nesse momento Toninha ficou eufórica, pois havia descoberto então que a pessoa se encontrava disponível para ser xavecada, cantada e permitia que ela se declarasse atraída por ela.

Por três ou quatro dias, trocaram vários áudios, já pouco digitavam mensagens. Nesse meio tempo fora revelada a sua profissão, trabalhava com fisioterapia. Toninha também foi convidada a seguir o seu perfil profissional. Atuava como osteopata. Tinha uma página repleta de informações, vídeos entre outras, pois além de atuar em consultório e clínica também dava aulas. Dados que a detetive acabou não descobrindo em suas buscas no perfil pessoal.

Eis que ficaram bastante próximas e Toninha numa manhã resolveu logo cedo fazer um áudio e confessar que estava “stalkeando” ela para descobrir se estava sozinha ou comprometida. Disse tudo em vários áudios de um minuto por mensagens de uma rede social. A elogiou dizendo o quanto a achou bonita e que fora atraída primeiramente pela foto, que aparecia no perfil sugerido na rede social e logo depois pelo seu envolvimento com a arte. E que estava também encantada com a profissional competente.

Toninha disse tudo de coração aberto. A verdadeira investida sem medo de ser feliz, bem a cara de Toninha, apostava alto em suas jogadas sedutoras. Contou todos os detalhes que lhe encantaram nas buscas. O feedback foi receptivo. Logo que Andreza recebeu e ouviu as mensagens, enviou seu número de celular para Toninha e, a partir dali, as conversas passaram a ser somente pelo WhatsApp.

Trocavam mensagens algumas vezes por dia comentando e compartilhando os dois assuntos que Andreza estava mais animada naquele momento. A inauguração de seu novo espaço de trabalho e também, os concertos que participaria em duas cidades vizinhas naquele mês de outubro.

Era mais que esperado por Toninha ser convidada para a inauguração da Clínica de Andreza, momento que haveria um pequeno sarau dos alunos de seu primeiro professor de Violoncelo. Para Toninha e Andreza esse seria o dia de se conhecerem pessoalmente também.

No sábado da inauguração, Toninha comprou flores para levar a sua nova amiga. O GPS deu umas voltas a mais do que o necessário para chegar ao local e isso acabou a atrasando um pouquinho, mas nada que ficasse tão feio e que as flores não justificassem.

Sentada ao fundo em meio a vários cellos e alunos, observava a cada movimento de Andreza. Agora stalkeava sua vítima a olhos nus. Tirava fotos dela organizando as apresentações que seguiam um charmoso programa impresso, em que na capa havia um desenho de um esqueleto estilizado no formato de um cello, muito bom gosto na arte, fazendo menção a fisioterapia e ao cello suas duas “artes”.

Logo após as apresentações, Andreza e todos os convidados combinaram almoçar todos num restaurante sugerido pelo professor, já que maioria era de vegetarianos, marcaram de se encontrar num restaurante natural. Todavia, Toninha que seguia o carro de Andreza ficou sabendo à porta do restaurante indicado que ele estava fechado naquele sábado e então todos acabaram dispersando e Andreza convidou Toninha para ir a uma churrascaria. O que Toninha adorou, pois não era vegetariana.

No restaurante as duas conversaram bastante, contaram da vida, da família, dos relacionamentos passados e também conversaram sobre música e teatro. Foi muito legal e Toninha continuou gostando ainda mais da sua “Stalkeada “, porém sentiu que com Andreza não fluiu da mesma forma. A despedida foi um tanto fria, já que Toninha tinha o costume de abraçar a todos para trocar energia boa, e nem isso foi possível. Andreza colocou uma parede entre as duas. Toninha foi embora um pouco frustrada.

Passou o domingo e na Segunda-feira voltaram a trocar mensagens pelo WhatsApp, Toninha já mais na dela, sem estar mais tão disponível, porém se surpreendia pela intimidade que Andreza expressava via mensagens. Até chamada em vídeo fez, o que foi divertido e que favoreceu fotos da tela do celular bem interessantes que Toninha não perdeu tempo em tirar para guardar.

Andreza surpreendeu novamente Toninha convidando-a para ir com ela ao ensaio seguido do concerto com o público. Convite esse estendido para posteriormente, dormir em seu apartamento pois, voltariam bem tarde da cidade vizinha onde aconteceria o concerto.

E é chegado o dia do concerto da mulher linda que despertou a admiração de Toninha e na qual ela cobiçava ter algo além de amizade. Quando chegou ao apartamento dela, as duas tiveram tempo de conversar e ser apresentada a gata maravilhosa que ela tinha de Pet. Porém, logo saíram para o concerto e ao chegarem ao local do evento, durante o ensaio e a passagem do som, Toninha fotografou e filmou tudo que pode do espetáculo. Pois, depois aconteceria o concerto com público. Plateia estava cheia e vibrante.

Toninha no caminho de volta, foi se insinuando para Andreza. Ora ela parecia gostar das investidas, ora não correspondia. No elevador as duas eram só risadas pois, com aquele instrumento enorme tentavam tirar fotos no espelho. Estavam bem soltinhas as duas. Toninha não perdia a oportunidade de se aproximar mais de Andreza e dizer ao que veio…

No apartamento, depois de Andreza dar atenção a Brigith Bardô, sua gata, que começou a miar alto assim que a chave virara na fechadura, primeiro alimentou sua gata e depois foi as voltas de arrumar o seu quarto para receber Toninha. Separou toalhas e perguntou sobre o travesseiro que ela gostaria mais.

Toninha aproveitou e pediu licença para tomar uma ducha e assim que saiu do banho, toda fresquinha e perfumada vestindo uma camisola bem alegre, foi encontrar Andreza que estava a buscar um filme para assistir na TV da sala. As duas sentaram para assistir um filme bastante comentado com a atriz Julia Roberts como protagonista.

Andreza estava esquiva, foi sentar-se no tapete fofinho. Por mais que Toninha insistisse para que ficasse no sofá, ela preferiu o tapete. Toninha cansada do joguinho de frieza, falou que iria deitar-se. Nisso, Andreza levantou-se e foi até o quarto para pegar algo e dizer que dormiria no quarto da música com o cello, e, avisou que em casa que tem gato não poderia fechar a porta do quarto e que, provavelmente a Brigith invadiria a cama durante a noite para dormir com ela.

Nesse entra e sai as duas se toparam bem na porta estreita do quarto e Toninha tentou beijar Andreza, pois estavam muito próximas. Andreza agiu de forma bastante fria e um tanto agressiva. Levantou os braços se afastando e dizendo algo do tipo:

– Olha lá, vamos parar por aqui!

Toninha, se voltou para a cama, afastou o lençol de cima, apagou a luz e foi se deitar. Não demorou muito e sua companhia chegou.

A gata Brigith Bardô , logo se acomodou sobre seus pés e dormiu quase que a noite toda com Toninha. Ao menos os pés ficaram aquecidos.,

Na manhã do Domingo, Toninha levou para casa uma experiência frustrante e ao mesmo tempo uma ótima história engraçada para contar para suas amigas.

Tanto programou para aquela noite, pensou, planejou detalhes, viajou na imaginação de coisas lindas que poderiam acontecer por ali naquela noite propicia para o amor com aquela gata de seus sonhos, vítima de suas “stalkeadas” que no fim, literalmente, dormiu com a gata, a peluda Brigith Bardô.

Por ADRIANA TEIXEIRA SIMONI

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