CONTOS E MINICONTOS – Insuficiente por Suelen Farias

CONTOS E MINICONTOS – Insuficiente por Suelen Farias

O motorista estacionou em frente ao “Grand’ Palace”. Denise pousou as mãos sobre a janela lateral do carro, nariz quase encostando no vidro, sorriso largo nos lábios. No peito a alegria quase era completa. Seus olhos muito abertos admiravam a estrutura do local.

– Quando tinha estado em um lugar daqueles?

– Nunca.

Despediu-se do motorista com um aceno de gratidão. Do outro lado da avenida movimentada o mar brilhava em tons de laranja e azul contrastando com a luz do sol. Ainda que quisesse ficar ali diante daquela paisagem, desviou o olhar para a entrada do estabelecimento que repousaria pelos próximos cinco dias, aproveitaria a praia mais tarde.

No interior do Hotel andava devagar. Consigo trazia apenas uma mala média de cor rosa, presente que havia ganhado dois meses antes da mãe, para “a viagem que lhe faria bem” palavras que ela usará na ocasião, a fim de convencer Denise a ir.

A cabeça girava para ambos os lados, obtendo o máximo dos detalhes. Apreciava a decoração. No teto os inúmeros lustres pendurados, os quadros de pinturas abstratas nas paredes, poltronas confortáveis, o tapete bege de tecido macio, que não pôde deixar de reparar, era maior que a sala de estar do apartamento que morava.

Dirigiu-se até o balcão de atendimento, o fascínio lhe era tão imenso, que gaguejou seu nome e o número do quarto a recepcionista. Enquanto a atendente verificava os dados no computador, um casal se aproximou e parou ao seu lado.

Ele com os braços enlaçados na cintura da moça sussurrava-lhe palavras no ouvido. Ela lançava a ele um olhar afetuoso. Sorriam com êxtase. Trocavam carícias. Pareciam não enxergar mais nada, nem ninguém além de si mesmos. Denise sentiu-se invisível, uma peça que se fundia com os demais móveis.

Nem mesmo na hora de apresentar os documentos o casal desatara os braços envolvidos no corpo um do outro. Denise observava de viés. Não conseguiu evitar o acúmulo das lembranças que pulsavam a cada batida do coração. As lágrimas se multiplicavam nos cantos dos olhos. Quando se deu conta, chorava.

O casal e a recepcionista a encaravam sem entender. Mas como poderiam? Nem mesmo Denise entendera. Porque todo aquele luxo e beleza não lhe aplacavam a dor da solidão? Estar naquele lugar divino não era suficiente?

Reconheceu que as respostas já estavam ali. Ignorar era inútil. Sua vida agora era feita da ausência. Da falta. Nada preencheria o vazio deixado por ele. Não queria estar no paraíso se fosse para vivenciá-lo só.

 

Por SUELEN FARIAS

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