O coelho branco está olhando no horizonte, com seus pequenos olhos azuis brilhantes e penetrantes. O pelo branco está esvoaçante junto com as pétalas das flores coloridas do jardim onde ele se encontra. Ainda há o risco de ele ser caçado, mas por ora, ele só quer apreciar o que o dia brilhante e a natureza abundante reservaram para ele. Esta é a história por trás da pintura O Dia do Caçado de Evandro Faustini, a mais nova obra que ele está exibindo no Festival de Arte de Campos do Jordão. Ele está acompanhado de Alessandra, sua namorada. Alessandra é uma professora de artes que leciona para o primário, tendo conhecido Evandro durante um evento municipal de artes. A paixão por pinturas os aproximou e eles estão juntos há dois anos e meio.
Após o término do evento eles colocam os seus pertences no Parati dela, que era de seu pai. O carro tem 20 anos, mas funciona muito bem. Evandro pega o último item e nota alguém os observando. Um homem de cabelos e barbas longos usando óculos e roupas escuros. Evandro dá de ombros e entra no carro.
Eles retornam à pousada. O sol ainda está no alto, mas está lentamente começando a descer. Enquanto entra no quarto com Alessandra, ele aproveita para observar o sol e todo o céu, ou pelo menos todo o pedaço do céu que é possível de se ver a olho nu. O quarto da pousada possui uma cama de casal, um banheiro e uma cozinha com sacada gourmet. Os dois logo seguem para o banheiro, retirando as roupas e ligando o chuveiro, ensaboando o corpo um do outro e se beijando apaixonadamente.
Do lado de fora da pousada, dentro de um Jeep Renegade de cor preta, estacionado na rua do lado oposto à Pousada, o tal homem está lá observando. Um rapaz o aborda enquanto ele está distraído com a foto:
– Sai. – diz ele apontando uma arma para o rapaz.
Depois de fazerem amor no chuveiro, Evandro e Alessandra se arrumam para ir a um restaurante, que não é muito longe dali, para comer fondue. Enquanto o casal segue de mãos dadas, Evandro observa Alessandra, seu rosto, seu cabelo se movendo a medida que eles estão andando, tendo ideias para uma pintura, mas uma pintura apenas para ela.
Eles jantam, bebem vinho, fazem planos para quando retornarem para casa, e então depois de pagarem a conta retornam à pousada, pensando que será uma noite tranquila antes de viajarem, mas ao entrarem no quarto se deparam com um homem armado. Evandro reconhece como o mesmo que vira mais cedo. Evandro se põe na frente para proteger Alessandra, ao que o homem diz que só veio por ele:
– O que você quer comigo? – pergunta Evandro.
– Você nunca deveria ter fugido. – responde o homem.
O homem então explica que Evandro é um experimento baseado em inteligência artificial produzido há alguns anos, cujo objetivo era atuar em linha inimigas se infiltrando e dando cabo de inimigos, mas ele se rebelou e fugiu. A missão dele, o homem explica, é para destruí-lo de uma vez por todas por quaisquer meios necessários. Ele manda Alessandra se afastar, mas ela se recusa, pensando ser algum mal entendido vindo da mente de um maluco. Ele então atira, com o tiro acertando o rosto de Evandro e uma luz branca e faísca sendo emitidas após o disparo.
Evandro cai no chão e Alessandra avança para cima do homem, mas ele a derruba, agarrando-a pelos cabelos e jogando-a no chão. O homem aponta a arma para ela pronto para executá-la, mas Evandro ressurge e pela primeira vez desde que estão juntos, Alessandra testemunha Evandro demonstrando agressividade. Ele agride o homem brutalmente com socos no rosto e abdômen, sendo possível ouvir costelas quebrando. O braço e a mão que segurava são quebrados, quase esmagados. Ele dá um ataque com um soco que destroça a laringe, fazendo o homem cair de bruços no chão, morrendo em questão de segundos tentando respirar.
Evandro se recompõe e procura Alessandra, que está encolhida no canto da sala, apavorada. Ele se aproxima dela, mas ela se encolhe mais ainda, com o pavor gritando em seus olhos. Ao se virar ele vê seu reflexo no espelho e vê o que aconteceu com seu rosto. O lado esquerdo está revelando uma estrutura metálica semelhante aos ossos de uma face humana, sendo visíveis circuitos que sustentam o olho esquerdo.
Ele olha para o que houve com seu rosto e olha para Alessandra, sentindo uma lágrima cair de seu olho direito:
– Eu vou ter que fugir. Eles vão mandar outros atrás de mim.
Ele caminha até a porta e Alessandra o chama:
– Espera! Quem é você de verdade?
Sem olhar para ele diz:
– Sou uma máquina que sonhou que podia ser um homem.
Sem olhar para trás ele vai embora e segue andando pelas florestas. Segue andando por tempo suficiente de ver o nascer do sol. Tal qual sua pintura ele dá uma parada para apreciar o que o dia brilhante e a natureza reservaram para ele.
Por GIOVANNI ALCKMIM