CRÔNICAS – É sobre isso, o quê por Fernanda Cavalcanti

CRÔNICAS – É sobre isso, o quê por Fernanda Cavalcanti

 Falaremos aqui do famoso “é sobre isso” e sobre sabe lá o que realmente estão querendo dizer, falaremos sobre um bordão muito usado nas redes que conectam pessoas e mais pessoas para interagir entre si. Seja lá em qual rede social você gosta de acessar, o bordão é tão usado que certamente já teve ter lido e quem sabe até se perguntou sobre o que significa “é sobre isso”. Ou melhor, pode ter pensado “é sobre o quê?”, assumo que também pensei assim.

 Oh leitor, se somos semelhantes então podemos nos unir em um diálogo, se bem que colocarei na nossa interação alguns dos meus mais vagos, ingênuos (e talvez confusos) pensamentos sobre o domínio da comunicação e a arte de se expressar é uma grande luta nessas redes de conexões sociais, é uma luta ora perdida, ora vazia, é sobre tanta coisa e sobre nada também, é mais sobre nada, as vezes até faz sentido o “é sobre isso”. Eu sei, ficou confuso, também concordo ser confuso entender a proclamação do “é sobre isso”, mas como qualquer bordão virtual é transitório, vai passar e até bem rápido, mas enquanto isso podemos ficar tentando entender se talvez falam sem ter nada para dizer, mas sabe lá os porquês é tão preciso e precioso ter algo para falar ou postar, e de fato é quase uma rede de ruídos onde ninguém consegue se entender.

 Espero que nessa nossa interação também podemos construir uma perspectiva em comum, mas tudo bem se não construirmos, saliento que o bordão completo é: “sobre isso, e está tudo bem”, afinal, está tudo bem diferirmos, e até devemos assim ser. Então, falaremos de muita coisa, mas também como já mencionei que não falaremos de nada, não domino esse tal campo de linguagem, ninguém domina nada, apenas tentamos lutar contra a falta de clareza e obviamente dos nossos ideais imaginários para quem sabe conseguir uma expressão coesa de uma perspectiva sobre um objeto real (ou não), enfim é o que estou tentando dizer e caso fracasse, digo que é sobre isso e está tudo bem.

 Sabemos que as redes se denominam assim pela multiplicidade de conexões interpessoais, muito embora a qualidade seja questionável. Você pode também ver e encontrar todo o tipo de interação que conseguir imaginar, vou dizer que penso na tendência da diminuição das interações reais, sabe aquelas interações das mais banais como se sentar na praça e falar sobre o tempo, falta isso, falta também as crianças nas ruas com suas pipas, bolas e o corre-corre, falta isso e tantas outras coisas reais. Mas é sobre isso, nas redes não há essa escassez, contudo de forma paradoxal há excessos de tudo, tudo mesmo e sobra muito, e interpondo um ditado popular (ou provérbio, ou sei lá o que decida definir) que quem tudo quer, nada tem, podemos aqui dizer: onde há tudo de muito, há muito nada.

 Também penso que as interações que lutam massivamente para tentar se comunicar, se expressar, e nada mais e nada menos de que se mostrar por simplesmente querer se amostrar pode só representar não haver nada a ser dito e também sobre o não saber o que dizer, haja visto que de fato não sabemos o que querem tanto ao dizer “é sobre isso”. Talvez manifeste nesse processo um latente desejo de ganhar um presente que há nas interações em redes, podemos até mencionar ser o desejo pelo biscoito, será que isso tudo seria sobre isso? Às vezes, até relutam por isso, por um domínio com tendência ao indominável que seria a inteligência da linguagem algorítmica, e não sabemos nem lutar contra ela, não sabemos nem sobre o que estão falando quem dirá algo que é artificial a nós.

 Definitivamente, não sei o que de fato é, apenas sinto um grande vazio entre um mundo, mas tentamos ao máximo se expressar independente dos nossos inúmeros vazios. Em minha ingenuidade acredito fielmente que todos tem um campo lá muito secreto em nossas mentes onde nem sabemos o que sabemos, ou melhor, temos um vazio e como qualquer vazio, há espaço para ser preenchido e quiçá temos uma necessidade de buscar constantemente pelo seu preenchimento. Eu busco preencher de uma forma para o meu sustento, você de outra, e quem se inserem nas redes lutam por aquilo que os sustentam, e talvez seja uma luta perdida para os algoritmos e dos biscoitos de recompensa imediata, e quem sabe seja só sobre isso. Mas, será que está tudo bem?

Por FERNANDA CAVALCANTI

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