São todos estranhos, esses que caminham como eu. No subúrbio, na madrugada, a caminho do trabalho. Vão em silêncio olhando para o vazio, alguns cochilam, quando encontram no coletivo um lugar para se sentar. Tem os que ficam espremidos, uns contra os outros, parecendo cansados, antes mesmo de iniciar a rotina do dia.
São homens e mulheres, esses que vão para as fábricas, construções, lutar pelo pão, o sustento dos familiares, dos filhos. A luta para continuar a viver. E vejo em seus olhos, tristeza. O corpo magro, mostra a falta do alimento de qualidade. As vestes demonstram estar desbotadas, entregando o uso diário. No frio vi por várias vezes, os que passavam por mim, encolhidos, com as mãos enfiadas nos bolsos, procurando calor.
São os desfavorecidos, de empregos que lhes paguem o que merecem. São os assalariados, que recebem um salário tão pequeno, quanto a sua crença de uma vida melhor.
São esses que passam na rua por mim, com a cabeça baixa, parecendo ter cometido tantos pecados, que os olhos só encontram o chão. Não se interessam pelos outros estranhos que cruzam por eles, caminham em seus destinos preocupados, com as dívidas, a fome e sua própria sobrevivência.
São esses estranhos que engradecem a indústria, a lavoura, e fomenta a economia, o crescimento do País. Esses que em sua ignorância, enfrentam os empregos mais hostis, e insalubres. Desprovidos de educação, cultura, semianalfabetos, são os que constroem o mundo em que vivemos.
Os pobres que cheiram a suor, que emanam tristeza, que pedem com seus olhos tristes dias melhores. E a vida ainda continua igual.
Por IVETE ROSA DE SOUZA