Desconstruída

Desconstruída

 Às vezes tenho vontade de me partir ao meio, de rasgar o peito e deixar tudo sair de dentro de mim. Tenho vontade de arrancar os pedaços, de deixar o sangue correr livre pelo chão, de me desfazer… Não, eu não quero me matar ou me machucar, quero romper os ciclos que me feriram, quero me limpar do que dói, quero recomeçar sem sementes do mal, sem nada que me faça voltar a me sabotar de novo.
 Quero me fragmentar, me desconstruir, recomeçar do zero, refazer minha fortaleza do início, tijolo por tijolo, não posso mais ser essa versão ultrapassada de mim…
 Quero recomeçar sem arrependimentos, sem receios de que devia fazer mais ou menos, quero saber que fiz o meu possível naquele dia, quero errar sem me condenar por isso…
 Sei que mereço um recomeço, sei que tenho sido deveras exigente comigo, controlando, criticando e sabotando e agora mais do que nunca mereço gentileza para seguir um caminho com menos espinhos, eu sei que mereço isso. Estou me curando de mim mesma e todo amor que dei e não foi retribuído, voltarei com toda força para esse reflexo cansado que vejo no espelho.
 Eu me amo, eu me basto e estou aqui crua e despida, desconstruída, mas chorando de alívio e alegria, com minhas navalhas caídas…

Por CACÁ MATOS

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