As dificuldades de ser artista estrangeiro em Hollywood
Desde muito pequenos somos cobrados qual profissão vamos exercer quando crescer.
Muitos de nós seguimos a profissão do pai ou da mãe, porém quando não temos parentes artistas e falamos a nossa família que nossa vontade é seguir a carreira artística, muitas vezes somos analisados de cima a baixo com comentários tipo; você tem certeza de que é isso o que você quer ser? Sabe que artista não ganha dinheiro né? E quando você insiste e começa a frequentar aulas de teatro, canto, dança, daí sim a coisa começa a piorar.
Mas você já imaginou se você ainda vai um pouco mais além e diz que seu sonho é ir embora para Los Angeles por que você quer ser artista em Hollywood?
Sua família provavelmente te chamaria de louca(o). Mas posso te dizer que isso foi exatamente o que eu fiz.
Nessa edição eu vou lhe contar a minha trajetória em Los Angeles e como foi difícil os primeiros passos na capital mundial do cinema.
Desde criança eu sempre adorei as artes, apaixonada pela escrita desde criança, até meus 8 anos de idade eu observava meu pai declamando seus poemas nos poucos eventos anuais que íamos no interior do Rio Grande do Sul. Após seu falecimento nos mudamos para o litoral onde eu entrei em uma depressão profunda e foi com a arte que me livrei dela.
Aos 13 anos minha mãe me colocou no teatro para ver se melhorava minha timidez e a tal depressão, foi nessa mesma época que eu fui apresentada a Camões e Clarice Lispector, por quem me apaixonei imediatamente, desde então eu decidi que viver da arte. Apesar de todas as dificuldades minha mãe jamais me impediu de sonhar e lutar.
Entretanto eu tive que esperar muitos anos para realizar o tão esperado sonho de me mudar para os Estados Unidos. Porém, quando eu cheguei aqui percebi que as coisas seriam mais difíceis do que eu imaginava.
Uma das coisas que eu percebi chegando em Los Angeles foi o quanto as pessoas aqui valorizam a arte. Elas podem fazer bicos de garçons, bartender ou qualquer outro, mas eles sempre vão dizer que a profissão deles é ser ator, escritor, diretor, e por aí vai.
Isso no início me deixou uma pouca confusa, por que eu não via eles trabalhando em frente as câmeras e sim em um restaurante. Mas depois de um tempo eu fui entendendo que isso tem também a ver como valorização de seu trabalho. Os americanos se valorizam muito pelo que fazem, e eles mesmo estando fazendo bicos para ganhar um extra, sempre vão se apresentar como artista se assim o for. Isso me trouxe uma outra visão do que é ser artista, porque no brasil costumamos dizer ou ouvir, sou artistas nas horas vagas, já em Hollywood, o artista é garçom nas horas vagas. Vi uma inversão de valores e princípios que foi um choque cultural em um primeiro momento, mas foi necessário para eu me aceitar e me entender como artista.
Entretanto essa foi apenas uma das grandes diferenças que eu vi com o brasil, não que aqui seja um mar de rosas, muito pelo contrário, aqui é bem difícil, um mercado muito competitivo. Outra coisa que eu vi foi a variedade de cursos livres espalhados pela cidade, cada um trazendo uma coisa diferente, como por exemplo; um curso somente de monólogos, outra de atuação livre, já outro de improvisação, onde pode muitas vezes sem divididos em módulos, isso me fez perceber as diferentes facetas que um ator pode ter.
Foi quando na faculdade eu me arrisquei em uma dessas aulas, mesmo com meu sotaque (que muitos até nem dizem que é de brasileiro). E foi aí onde eu tive uma das maiores lições da minha vida que nem meus anos de teatro no Brasil me ensinaram. No meu primeiro dia de aula, após a apresentação de cada um aluno, nossa professora disse uma das nossas tarefas de casa era escrever um ou dois parágrafos por dia sobre a gente, como um Journal (no Brasil nosso famoso diário). No início eu não entendi muito bem, mas fiz tudo o que ela pedia e após um mês de aula eu comecei a entender o que ela realmente queria dizer. Ser artista requer conhecimento de nós mesmo, saber quem somos, o que queremos e para onde queremos ir.
Outra coisa que eu achei bem interessante foi no começo da aula, a professora fazia a gente dançar, imitando a coreografia um dos outros. No final ela explicou que a gente tinha que se soltar para poder aprender melhor. Com isso eu senti que o processo de aprendizado facilita mais. Inclusive fazer imitação de animais, também ajuda o artista a de soltar e a desenvolver melhor seus personagens. Vocês podem até estar pensando que eu to falando besteira, mas acredite é super comum aqui nas aulas de atuação o aluno ter que.
Um outro aspecto que eu achei superinteressante aqui, foi que o artista ele tem um conhecimento técnico sobre a sua profissão, ou até mesmo sabe sobre a história do cinema desde o começo. Ou seja, aqui tem várias aulas sobre a história do cinema, onde atores, produtores, diretores, diretor de fotografia assistindo as aulas e analisando cenas de filmes da década de 10, 20, 30 e 40, porque para eles é superimportante saber como tudo surgiu e quem criou.
Com todos esses ensinamentos eu aprendi que ser artista vai muito além de simplesmente dizer que você é um artista. Você precisa trabalhar duro para se tornar um artista, para chegar ao sucesso, ao tão sonhado reconhecimento. Aqui eu vi que para eu ser uma roteirista eu tive que passar por todas as fases de desenvolvimento e que mesmo escrevendo diariamente, revisando diariamente, reescrevendo diariamente, eu ainda tenho muito o que aprender. Porque roteiro não é somente escrever uma história com começo, meio e fim, se a mesma não tem conecção, não tem estrutura, desenvolvimento de enredo, desenvolvimento de personagens e no final não tenha uma resolução final que faça a audiência pirar. E isso acontece em todas as áreas do cinema e da literatura.
Depois de 10 anos aqui, posso dizer que meu maior desafio foi me aceitar definitivamente uma artista a aprender que não importa onde eu esteja, eu nasci para ser uma artista.
Entretanto, com isso eu vou ter sempre novos desafios para enfrentar, seja ela na competição de um festival, ou aprendendo novas técnicas de escrita, no desenvolvimento de uma nova história.
Ser artista é sempre estar disposto a aprender e a ter a cabeça aberta a ouvir opiniões de outras pessoas que estão trabalhando na indústria a mais tempo e nunca deixar de sonhar, pois os nossos sonhos são quem nos mantem vivos e fortes para conquistar o mundo.
Por BEATRIS HOFFMANN