MATÉRIA DE CAPA – Literatura Brasileira

MATÉRIA DE CAPA – Literatura Brasileira

 LITERATURA BRASILEIRA

 

Eras literárias e autores na construção da identidade do país

 

Para os brasileiros, o 1º de maio representa bem mais que o Dia do Trabalho (e do trabalhador), um feriado compartilhado por mais de 80 países. A data reserva uma comemoração exclusiva ao Brasil. É o Dia da Literatura Brasileira. O motivo deste dia ter sido escolhido é mais do que nobre e já passou pelos olhos de milhões de estudantes e leitores: o nascimento do escritor cearense José de Alencar, um dos autores brasileiros mais significativos para a literatura nacional.

 

 

A data de nascimento do escritor José de Alencar, 1º de maio, é reconhecida como o Dia da Literatura Brasileira

 

Nascido em 1829, Alencar foi escolhido como referência para homenagens à literatura brasileira pelo conjunto de suas obras, verdadeiramente de teor nacional. Ele é considerado o primeiro escritor brasileiro a mostrar o Brasil genuíno, com temáticas nacionais e seus personagens típicos, a exemplo do índio e da vida sertaneja. Foi justo este projeto de cunho nacionalista, base do Romantismo, que projetou José de Alencar como seu principal representante. Ele escreveu mais de 20 romances, entre eles os clássicos O guarani (1857), Lucíola (1862) e Senhora (1875).

Se voltarmos o relógio da história, chegaremos à Carta de Pero Vaz de Caminha. Apesar de ele ser português, e não brasileiro, o documento que produziu, aqui no Brasil, é tratado como o primeiro texto literário do país. A literatura brasileira somaria então, de lá para cá, 523 anos de percurso. Este viés de literatura é atribuído à carta devido ao esmero que Caminha teve com cada palavra e com o uso de metáforas para criar, em quem a lesse, imagens que dessem conta de detalhar o que viu na nova terra que os portugueses haviam acabado de encontrar.

Importante relembrar a influência que a literatura portuguesa exerceu na formação do movimento literário brasileiro, cujos primeiros passos se deram à época do período colonial. A língua em comum facilitou a interação, fazendo com que escritores portugueses fossem lidos mais constantemente. O certo é que os momentos históricos são determinantes para a compreensão das Escolas Literárias que se formaram no país. Estas também são conhecidas por Movimentos Literários e estão organizadas por Eras.

A primeira Era é a Colonial, conhecida por sido mais impactada pela literatura portuguesa, uma vez que foi do descobrimento do país até pouco tempo antes da independência em relação à coroa portuguesa. Nesta Era estão as escolas literárias que entraram para a história como o Quinhentismo (1500-1601), que colocava Deus no centro do mundo e se dividiu em literatura de informação e de catequese; o Barroco (1601-1768), uma dualidade entre fé e razão, com viés pessimista; e o Arcadismo (1768-1808), que se caracterizou pela ênfase na razão, no bucolismo e na idealização da mulher, entre outros.

A segunda Era é a Nacional e, nela, as escolas já apresentavam maior autonomia, inerente a um país que conquistava sua independência. Na Era Nacional estão as escolas do Romantismo (1836-1881), que na poesia se dividiu em três fases, na prosa encarnou os tipos Indianista, Urbana e Regionalista, e, no teatro, foi do nacionalismo à crítica, drama e cômico. O Realismo, com sua linguagem objetiva, o Naturalismo, que enfatizou o determinismo, e o Parnasianismo, entre a objetividade e a alienação, predominaram de 1881-1893.

Ainda na Era Nacional, constam o Simbolismo, marcado pela valorização dos sentidos e pela musicalidade (1893-1910); o Pré-Modernismo, fortemente caracterizado como de transição, juntando referências de escolas passadas e antecipando outras escolas a se efetivarem (1910-1922). Alguns autores indicam que, em seguida, vieram o Modernismo (1922-1950) e o Pós-Modernismo (1950-até atualmente).

Outros, apontam que o Modernismo prevaleceu de 1922 a 1978 e teve três fases: a primeira, de 1922 a 1930, reuniu da inovação ao antirromantismo e à ironia; a segunda, de 1930 a 1945, na poesia se caracterizou pela crítica sociopolítica e o misticismo e, na prosa, pelo caráter social, enredo envolvente e linguagem sem rebuscamento. Na terceira fase, de 1945 a 1978, citada como Pós-Modernismo, se destacaram a geração de 1845, a poesia concreta e a prosa com linguagem experimental, fluxo de consciência e temática universal.

Nesta linha, por fim, vem a Literatura Brasileira Contemporânea, que assim passou a ser classificada de 1970 até atualmente. Nesse processo de construção da identidade literária brasileira, o contemporâneo vem sendo marcado por realismo social, experimentações, erotismo, crônicas e contos mais valorizados, realismo fantásticos, violência urbana, foco na estrutura do poema e liberdade para criar. Os anos 70, período conturbado na política brasileira, trouxeram, ainda, um elemento novo: a poesia marginal. Nesta contemporaneidade presencia-se o fortalecimento da diversidade, inclusive em prêmios literários. É a literatura das minorias, atendendo ao público LGBTQIA+, movimento negro e de mulheres.

 

Grandes autores e suas obras

 

Cada Escola Literária, de cada era, teve seus representantes. São vários. Impossível citar todos. Na Era Colonial, o Quinhentismo destacou Pero Vaz de Caminha, com sua carta famosa, e José de Anchieta, com o Poema à Virgem. No Barroco, figuraram Gregório de Matos, com Triste Bahia e a Prosopopeia, de Bento Teixeira. Já o Arcadismo trouxe Cláudio Manuel da Costa, que escreveu Obras Poéticas e Tomás Antônio Gonzaga, com Marília de Dirceu.

A Era Nacional, por sua vez, tem mais nomes e obras, devido à sua extensão e continuidade. O Romantismo tem, entre representantes de cada uma de suas três fases, respectivamente: Gonçalves Dias, em Canção do Exílio (nacionalismo e indianismo); Álvares de Azevedo, na sua Lira dos Vinte Anos (egocentrismo e pessimismo) e Castro Alves, com o célebre O Navio Negreiro (liberdade). O Realismo foi encarnado por Machado de Assis, em Memórias Póstumas de Brás Cubas; o Naturalismo, por Aluísio de Azevedo, em O Mulato; e o Parnasianismo, por Olavo Bilac, em Tratado de Versificação.

A obra Eu, de Augusto dos Anjos, e Tropos e Fantasias, de Cruz e Sousa, marcam o simbolismo, enquanto Lima Barreto, com Triste Fim de Policarpo Quaresma, Euclides da Cunha, de Os Sertões e Graça Aranha, com Canaã remontam ao Pré-Modernismo. O Modernismo na sua 1ª fase, de renovação estética e radicalismo, é simbolizado por Manuel Bandeira, em Libertinagem; as temáticas nacionalistas da 2ª fase foram representadas por Graciliano Ramos, em Vidas Secas; e as experimentações artísticas e inovações linguísticas, por Clarice Lispector, em A Legião Estrangeira.

 

 

Mário de Andrade, um dos fundadores do modernismo no país, se destacou como escritor, cronista, contista, poeta, crítico literário e ativista cultural

 

Importante destacar autores como Mário de Andrade, escritor, cronista, contista, poeta, crítico literário e ativista cultural, autor de Paulicéia Desvairada e Amar, Verbo Intransitivo, dentre outros, e Oswald de Andrade, escritor e dramaturgo, que escreveu a Trilogia do Exílio (Os Condenados, Estrela do Absinto e Escada Vermelha). Os dois, junto com Tarsila do Amaral, Menotti del Picchia e Anita Malfatti, constituíram o grupo de pintores e escritores citados na história do modernismo brasileiro como o “Grupo dos Cinco”.

Desses cinco, somente Tarsila não participou da Semana de Arte Moderna (mas quando chegou de Paris logo se integrou), evento que aconteceu em 1922, no Theatro Municipal de São Paulo. A Semana de 22, como passou a ser chamada, reuniu idealistas de diferentes linguagens artísticas, da literatura à música, pintura e escultura. Inspirados em inovações europeias, buscaram uma nova estética para a arte e cultura no Brasil.

Seguindo as escolas e partindo para a visão de autores que classificam o Pós-Modernismo de 1950 até hoje, figuram de Millôr Fernandes, com Millôr Definitivo: A Bíblia do Caos, a Ariano Suassuna, com Auto da Compadecida e Paulo Leminski, em Agora é que são Elas.

É extensa, felizmente, a relação de autores brasileiros que escreveram obras inesquecíveis. Não caberia neste espaço a relação de todos, mas vamos tentar a difícil tarefa de elencar alguns, como: Casimiro de Abreu, Visconde de Taunay, Adolfo Caminha, Monteiro Lobato, Cora Coralina, Cecília Meireles, Erico Verissimo, Mario Quintana, Carlos Drummond de Andrade, Rachel de Queiroz, João Guimarães Rosa, Vinicius de Moraes, Jorge Amado, Carolina Maria de Jesus, Manoel de Barros, Fernando Sabino, João Cabral de Melo Neto, Lygia Fagundes Telles, Rubem Fonseca, Ferreira Gullar, Hilda Hilst, Augusto de Campos, Adélia Prado, Conceição Evaristo, Caio Fernando Abreu, Ana Cristina Cesar e Milton Hatoum. Com certeza, muita gente boa ficou fora da lista.

 

Rachel de Queiroz foi a primeira mulher a integrar a Academia Brasileira de Letras e também a primeira escritora a receber o Prêmio Camões

 

Rachel de Queiroz, inclusive, foi a primeira mulher a fazer parte da Academia Brasileira de Letras, em 1977. Foi também a primeira escritora a receber o Prêmio Camões, em 1993, uma iniciativa conjunta dos governos de Portugal e Brasil. Premiações deste tipo, na literatura, são um reconhecimento para os que já estão na jornada, além de estímulo e projeção para novos escritores e escritoras. No Brasil, entre outros, se destacam os prêmios São Paulo, Jabuti, Sesc e Biblioteca Nacional.

 

Por ANA MÁRCIA DIÓGENES

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