POETAS E POETISAS Chuva de diamante por Alberto Arecchi

POETAS E POETISAS Chuva de diamante por Alberto Arecchi

Gotas duras como diamantes.
Onde bateram, deixaram a marca.
Vidros das janelas quebrados,
telhados esburacados,
guarda-chuvas rachados
como peneiras.
Os telhados dos carros ficavam
transformados em enormes dedais.
As folhas das árvores foram estripadas
como se foram golpeadas
por tiros de metralhadoras.
Um vento forte surgiu,
levantando de todos os lados
os fragmentos do que
tinha sido a cidade.
Folhas de cadernos voavam
com registros fiscais,
como papagaios leves,
num enorme furação,
levantadas do chão até às nuvens.
Parecia o fim do mundo.
Neste ponto, você esperará
que o despejo da lixeira
se transformasse em algo bonito
ou algo terrível.
Esperará a bolha de esgoto explodir,
transformando-se em um dragão monstruoso,
ou rosas e flores desabrochar,
tremulando em música celestial
nas encostas da colina artificial.
Nada disso, queridos amigos.
Nem a chuva de diamantes
nem o vento libertador
que rasgou a cidade em pedaços
não tiveram efeito nenhum
na colina encharcada de odores.
Maciça, elefantina, fedorenta,
a lixeira resistiu a tudo:
permaneceu, triste e sombria,
para referência futura.
Aqui a posteridade
vai realizar escavações
arqueológicas,
para reconstruir nossa civilização.

Por ALBERTO ARECCHI
Pavia – Lombardia, Itália

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