Não é a idade
Não é a doença
Nem a crença
Ou a descrença
Não é o medo
Da morte
Da bala perdida
Da violência
Ou do caos
Isso também
Mas é a tristeza
A decepção
Com a injustiça
Com o ódio gratuito, a violência
Com a incapacidade
De aprender
Com o passado
É ver o rico enriquecendo
Ainda mais
Para empobrecer o pobre
Cada vez mais
É só a mágoa
De ver o branco
Matando o negro
A polícia arrogante, assassinante
O governo doente, incompetente
O homem, macho absoluto
Estuprando a mulher
De tantas formas
O trans, o deficiente
Atacado por ser diferente
Sendo gente como a gente
O povo largado, abandonado
Indígenas massacrados
Terras invadidas
Não é nada demais
É só a impotência
A impaciência
A desesperência
Ante o poder dos imbecis
O atraso, a prepotência
O reinado da incoerência
Interesse, cobiça, a verdade refém
Sob as asas hipócritas do amém
O mundo todo deu errado
Mas quem liga
Em meio à correria
No reinado do ego
Na busca celebritosa
Trends, likes e seguidores no domínio do algoritmo
Dog eat dog, no más
São tempos sombrios
Seres perdidos, desesperados, desesperançados
Poder e beleza
Mascarando a fraqueza
Ninguém liga
É mais fácil desligar, desconhecer
Todos conectados na ignorância das redes
Não dá pra rimar
Só lamentar
Enquanto insistem os incautos em dizer
Que vai passar.
Por JOSÉ MANUEL DA SILVA
Rio de Janeiro – RJ, BRASIL