PROSA – Ouro derretido à deriva por Rute Ella Dominici

PROSA – Ouro derretido à deriva por Rute Ella Dominici

Pergunta-me onde me achava morrendo

como um navio incendiado em alto mar

deixando tombar o ouro que se fundia em pleno amar lava

incandescente derretendo aos poucos a formar arte deslumbrante

 

sem ar no pulmão das águas frias

pergunta-me as palavras que te dissera

foram de audácia as correntes que te prenderam

algema líquida que te segurou bem firme

deixara-te deslizar como peixe escorrega das mãos

 redimes, lembra-te e salta em águas conhecidas

reconhece teu habitat

 

peixe que passa por minhas pedras limosas de cheiro do mar

marulho te cante aos ouvidos

salgado salino ao teu paladar

brinda e não esqueças do molhado na borda da taça

folga-te das bolhas que se formam na boca que beijas

palavras poéticas feitas de um nada

se agitam e dizem o tudo de uma só vez

 

brigas comigo que o tudo é teu é meu

é demais e de mais ninguém

nademos sem rumo de mãos enamoradas

se me afundas te sossego, se te afundo nadas de braçadas

e boias de prazer comigo

 

olha-me molha-me debaixo d’água

meu corpo se dilui e a visão é ilusão

o movimento é nosso no insustentável

até que morras até que acordes

de tuas águas que me quiseram e me amaram

pergunta-me onde me achava

morrendo como um navio incendiado em alto mar,

 à deriva

Por RUTE ELLA DOMINICI

Pular para o conteúdo