Pergunta-me onde me achava morrendo
como um navio incendiado em alto mar
deixando tombar o ouro que se fundia em pleno amar lava
incandescente derretendo aos poucos a formar arte deslumbrante
sem ar no pulmão das águas frias
pergunta-me as palavras que te dissera
foram de audácia as correntes que te prenderam
algema líquida que te segurou bem firme
deixara-te deslizar como peixe escorrega das mãos
redimes, lembra-te e salta em águas conhecidas
reconhece teu habitat
peixe que passa por minhas pedras limosas de cheiro do mar
marulho te cante aos ouvidos
salgado salino ao teu paladar
brinda e não esqueças do molhado na borda da taça
folga-te das bolhas que se formam na boca que beijas
palavras poéticas feitas de um nada
se agitam e dizem o tudo de uma só vez
brigas comigo que o tudo é teu é meu
é demais e de mais ninguém
nademos sem rumo de mãos enamoradas
se me afundas te sossego, se te afundo nadas de braçadas
e boias de prazer comigo
olha-me molha-me debaixo d’água
meu corpo se dilui e a visão é ilusão
o movimento é nosso no insustentável
até que morras até que acordes
de tuas águas que me quiseram e me amaram
pergunta-me onde me achava
morrendo como um navio incendiado em alto mar,
à deriva
Por RUTE ELLA DOMINICI