A prosa poética remonta ao haibun, uma forma japonesa de poesia em prosa vista durante o século XVII. A poesia em prosa ocidental surgiu no início do século XIX como uma rebelião contra as estruturas poéticas tradicionais. Poetas como Aloysious Bertrand, Charles Baudelaire, Arthur Rimbaud e Stéphane Mallarmé usaram a poesia em prosa como uma forma de desafiar as convenções da época. Ao longo do século XIX, os poetas continuaram a abraçar a forma. A nova forma foi transportada para o século XX, com poetas americanos escrevendo poesia em prosa nas décadas de 1950 e 1960, incluindo Allen Ginsberg, Bob Dylan, Jack Kerouac, William S. Burroughs e Robert Bly.
A princípio, a poesia em prosa parece um oxímoro. Se a prosa é definida por ser composta de frases e parágrafos e a poesia é definida como composta por versos, não seria impossível criar algo chamado poesia em prosa? Os artistas tendem a violar e quebrar as regras, e os poetas não são exceção. Naturalmente, eles criaram uma forma que desafiava as próprias regras que definem a poesia. Para entender a poesia em prosa, precisamos olhar além da estrutura e examinar outros elementos que definem a poesia: o uso criativo da linguagem e das imagens, a economia da linguagem e o jogo de palavras. Consideremos esta definição de poesia de Merriam-Webster:
“Escrita que formula uma consciência imaginativa concentrada da experiência na linguagem escolhida e organizada para criar uma resposta emocional específica por meio de significado, som e ritmo. Embora a maior parte da poesia seja escrita em verso, a estrutura sozinha não define a poesia. Portanto, podemos pegar os outros elementos da poesia e, em seguida, remodelar a escrita em frases e parágrafos. É assim que você obtém poesia em prosa”.
De acordo com o Wikipedia, “um poema em prosa aparece como prosa, é lido como poesia, mas não tem quebras de linha associadas à poesia, usando fragmentação, compressão, repetição e rima e características do gênero poesia, como figuras de linguagem. A prosa poética é, essencialmente, uma fusão de prosa e poesia.
QUANDO CHORAR
Clarice Lispector
Há um tipo de choro bom e há outro ruim. O ruim é aquele em que as lágrimas correm sem parar e, no entanto, não dão alívio. Só esgotam e exaurem. Uma amiga perguntou-me, então, se não seria esse choro como o de uma criança com a angústia da fome. Era. Quando se está perto desse tipo de choro, é melhor procurar conter-se: não vai adiantar. É melhor tentar fazer-se de forte, e enfrentar. É difícil, mas ainda menos do que ir-se tornando exangue a ponto de empalidecer.
Mas nem sempre é necessário tornar-se forte. Temos que respeitar a nossa fraqueza. Então, são lágrimas suaves, de uma tristeza legítima à qual temos direito. Elas correm devagar e quando passam pelos lábios sente-se aquele gosto salgado, límpido, produto de nossa dor mais profunda.
Homem chorar comove. Ele, o lutador, reconheceu sua luta às vezes inútil. Respeito muito o homem que chora. Eu já vi homem chorar.
Por JEANE TERTULIANO