PROSA POÉTICA – Coração Caça Like

PROSA POÉTICA – Coração Caça Like

 Meu corpo tenso vive se sentindo escravo da mente. Sempre num labirinto entre o querer falar e a necessidade de silêncio. Lâminas me cortam ao meio, fico dividida entre a ousadia e a regressão. Tento me consolar, dar respostas satisfatórias para o meu desejo, e às vezes quero chamar atenção, ser ouvida, seduzir. Outrora me vejo querendo convencer o mundo daquilo que penso, e tentando dizer a todos que minhas palavras salvarão a pátria, que minhas reflexões são tão importantes quanto respirar. Em vida me vejo moribunda, fico com o coração quase parando quando ninguém me ouve, e se me ouve não me responde. E assim começo a sentir falhas no peito, vem aquela trava na garganta como se algo me impedisse de respirar, então me desmonto, busco oxigênio, mas está tudo tão cheio que falta espaço para respirar ar puro.
 Há tralhas demais, as do meu mundo me impedem de conseguir aquilo que mais desejo, quanto mais quero, mas fico distante. Meu olhar está alheio ao meu fazer, minhas veias vão dilatando sempre que penso em fazer algo que me leve em direção ao pensamento a poesia, me perco ao escrever e saltam faíscas. Não sei se quero escrever para persuadir, para seduzir, o fato é que isso me atrapalha, tira energias, suga o sangue, me deixa pálida. Levanto para tentar espairecer, mas me vejo lá onde estava e essa condição de ser completamente insensata me deixa refém de um desejo e isso barra a poesia. A ânsia de voar, impede as asas de levantar-se, quero ter certeza que estou certa ou mesmo errada, se a minha fala vai ter efeitos, se vão me achar sutil, áspera, petulante, se vão me admirar, odiar, enquanto isso sinto que vou falecendo e matando a ousadia.
 Me comparo até mesmo comigo e penso: “antes não fazia isso e hoje faço, isso não é bom ou isso poderia ter melhorado com o tempo”. Por sorte ou azar me debruço na mesa e respiro, tento sair de mim, mas volto e não me vejo boa o suficiente. Sigo tensa, medrosa e me vejo repetindo frases, palavras. Me acho desinteressante, exijo mais e mais, cheguei um ponto de não aquietar por dentro e ficar a noite acordada pensando numa maneira de agradar alguém, nada específico e olho as redes sociais e penso: “nossa que pessoa inteligente, que escrita única”, volto ao meu perfil, vejo as notificações, essa pessoa apenas curtiu, “porque será que ela não comentou?”. Deve não ter gostado, deve ter achado sem graça ou quem sabe nem leu, deve tá entediante. Encruzilhadas vou criando, não me mexo, me perco, me revolto, meu corpo virou febril, vive quente e meu coração é um caça like.

Por Mari Ventura

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