A poesia me marca a alma, como o vinho te mancha os lábios, ambos tintos, sangue vivo; me passeiam, purificam, oxigenam, limpam, enquanto marcam. Queria me embebedar dos seus lábios e te fazer versos puros; queria ser sua indicação poetizada e a escolha de suas, sequenciais, degustações. Queria eu te marcar com acidez e doçura e fermentar nosso amor com o passar de todos os tempos (agora mais que perfeito) e ter a mesma atemporalidade e individualidade de um belo poema; queria te provocar sensações e provar seus sabores, sem desiquilíbrio, embriaguez, sem problemas.
“Je ne parle pas bien, je ne parle pas bien, je ne parle pas bien”, mas conheço a linguagem, universalmente, única e sei, na prática, que “o amor é fogo que arde sem se ver” e com você eu quero queimar em almas vivas, brasas potencializadas pelo álcool que nos faz dançar, em chamas. Queria poder dizer que resistimos a esmagadora saudade na distância, que em nossos colos nos acolhemos, dançamos, cantamos e decantamos; que nossa doçura foi, levemente, fermentada, aprovada em teste e nós, um no outro, somos bebidas encorpadas e rima, além do toque, do perfume ao sabor, Merlot.
Queria dizer que somos mistura, textura, degustação (corpo no palato), que sou seu verso e você o avesso de mim, mas, de alguma forma – taça – eu sei: quanto a nós, seremos vinho versado e poesia tinta… até o fim.
Por JÉSSICA SABRINA – Preta, Poeta e Potente