A mesma rotina todos os dias: levantar-se às 7h00, fazer a higiene, tomar café, sair para o trabalho. O mesmo ônibus, os mesmos passageiros, os mesmos colegas. Carimbar papéis, na jornada de 6 horas. Estafante. Uma sucessão de insignificâncias.
Naquele dia, decidiu mudar o trajeto de volta para casa. Ficou fora de órbita. Não tem certeza do que aconteceu. Como foi parar naquele quarto de motel. Sem vestes, sem certezas, apenas viu corpo e alma em diálogo.
O relógio marcava 23h30. Havia enlouquecido. Por que resolveu mudar? Por que se deixou levar por um enigma? Não sabia que não se transforma assim, tão rápido? As cores do mar seguem iguais. A rotina é zona de conforto e agora estava ali, sem sossego.
Saiu às pressas daquele lugar. Deixou para trás não só as vestes, mas as angústias, os medos, as incertezas, as covardias. Na praia, banhou-se em mergulhos profundos. Sentia-se literalmente de alma lavada.
Agora, em casa, já não sabia quem era. Que imagem tinha. Não se via no espelho. Havia perdido todas as referências de si e dos outros.
Quebrou o espelho. Do outro lado também não estava. Restava catar os cacos e se refazer em mosaico.
Por RITA QUEIROZ