Hoje, eu te escrevi a última carta. O pôr do sol sempre foi nosso lugar e, talvez por isso, não por ocaso, o fim da tarde de hoje também tenha sido o fim do nosso “para sempre”. As jabuticabas, antes estreladas, já não brilham mais, a noite ultrapassou os limites da minha pele e cada arrepio se apagou, seu tato já não me lê e meu paladar não consegue decifrar teu sotaque carregado; as inspirações já não oxigenam minha prosa e, por isso, meu [uni]verso caiu. E, só por hoje, pensei na infinidade de textos inacabados, desabafos presos na garganta do meu silenciado telefone.
No centro do peito, grafites cobrindo (pich)ações, muros inteiros construídos por blocos de notas, pensamentos perdidos no labirinto entre os versos, entrelinhas, trechos …
Hoje, eu escrevi uma carta sem destino, falta parte da palavra, assim como você, que já não mais completa meus substantivos e, mais uma vez, não sei nos nomear. Nossa história é como o livro que você nunca terminou, talvez eu tenha acabado de ler antes do final e, também por isso, assim como Alice, sigo a vida reticente, componho respostas relembrando graves acidentes, cicatrizes em só(l) bemol, no desafi(n)o de um oboé – cadenciado pelo ritmo de uma máquina de datilografia – rimo antigas fotografias, (re)invento desfechos (…)
Por JÉSSICA SABRINA