A garganta da cascata se abre em canto. As vozes visitam os azuis, vagam no vasto vazio, vislumbram à vista onde lá moram encostadas. Vêm e vão nos vãos, como cristais pendentes, são lentes ladeadas, castiçais, ou copos de leite transparentes.
As vozes tocam os copos topázios, tilintam sonoras, reverberam em ecos vazios de histórias.
Águas agudas são tonalidades que elevam os vãos aos céus dos céus. Vestem-se de anjos as águas celestes. Águas vorazes são trompas cascatais, bramam leoninas nas variantes, descem os vales com a força de séculos, carregam segredos que nunca se apagam.
Nasce o canto, diamante prometido, ecoando entre os homens como promessa e presságio. A música desce em cascata como expressão sonora do destino.
Óperas elevam-se em catedrais de vento, erguem-se em palcos de mares e montes. São harpas de espumas e cantos contidos em cúpulas de ouro que flutuam nos ares. As vozes, agora, são estandartes, são sopros de sopranos errantes, falando aos homens em notas de fogo, na dança da chama que nunca se apaga.
Falam de amores, de dores, de tempos. Falam de pactos, de prantos, de hinos. Nos becos sombrios onde os reis se calam, nos salões ardentes onde as sombras dançam, elas ecoam. São paradoxos que dobram os sinos, são gritos sublimes em pedra esculpidos, cortinas que se abrem e nunca se fecham, pois nelas ressoam os ais infinitos.
Óperas góticas, neblinas lunares, janelas do mundo que entoam mistérios. Seja em ternura ou em caos absoluto, são vozes eternas cantando destinos.
Por RUTE ELLA DOMINICI