RECITA-ME – Poema Sobretudo – Ana Martins Marques

RECITA-ME – Poema Sobretudo – Ana Martins Marques

Educado pelo trabalho dos anos

o corpo aprende as posições da espera e da fuga,

do desencontro e do abandono.

E ao umbigo – essa primeira cicatriz –

virão juntar-se

outras feridas, mudas e intratáveis.

Cada corpo tem sua história de desejos,

seu volume lentamente forjado

no embate com os ruídos do dia.

O coração

como uma ave transpassada

pela seta do silêncio.

A vida secreta das vísceras.

E a coluna como uma estante para suportar

o peso de tudo.

Mas nós mal suportamos o sobretudo.

Por Gesiel Prado

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