Prosa Poética
Externar
Nunca sabia como dizer o que queria dizer…
Passou a noite em claro, maquinando como poderia levar adiante tudo aquilo que pensava. Como poderia colocar vestimentas naqueles pensamentos nus que queriam aparecer?
Resolveu se levantar pouco antes do Sol nascer. Colocou os pés descalços sobre o chão e o frio lhe invadiu. Não somente o frio climático, mas o frio das incertezas, dos receios, daquele medo que congelava o estômago, estremecia o corpo, resfriava os sentimentos e aguçava as inseguranças.
Pôs-se de pé, respirou profundamente e dirigiu-se à janela. Viu os primeiros raios de sol a surgirem e encheu-se de esperança de que eles pudessem, como mágica, iluminar a sua mente e aclarar a maneira de expor tudo o que havia sentido.
Era extremamente pensativa, mas temia falar. Costumava interromper a própria fala com um receio bobo de que falar fosse insuficiente para manifestar o sentir.
Sentiu-se fatigada, como se o quarto fosse pequeno demais para a inundação de pensamentos que lhe transbordavam. Temia tropeçar nas palavras e bagunçar o real significado dos seus sentimentos.
Em contrapartida, não admitia ser vencida por sua mudez convencional. Diante da dificuldade de falar, desenvolveu o método de escrever. Lançou-se, então, sobre a mesa, acendeu a luminária, catou uma caneta e pôs-se a minutar.
Na escrita, as palavras surgiam. Materializavam-se de forma ordenada com a coerência que ela gostaria de transmitir. Tendo-as ordinariamente escritas, fez-se possível atribuir significado ao que sentia e não podia dizer. Como se, para ter sentido, as palavras precisassem ser escritas antes de faladas. Como se fosse uma etapa indissociável da comunicação humana.
E, assim, prosseguiu com a escrita para, após, ler em alta voz o que havia registrado. O que saía de sua mente de forma codificada era decifrado em registros no papel. Como um golpe de sorte, seus aforismos se tornavam aptos a serem entendidos e facilmente lidos.
Dessa forma, ela conseguiu dar vazão ao que sentia. Aquelas palavras transcritas para o papel passaram a preencher todo o vazio de sua afonia.
E, assim, através do ato de escrever seus sentimentos, enfim…
… Aprendeu a falar!
Por LILIAN BARBOSA