Em nossa estreia aqui na THE BARD, o FÓRUM DO SONETO se apresentou e, nesta segunda participação, seremos mais enfáticos sobre a questão do fazer poético no SONETO, esclarecendo que, fundamentalmente, a elaboração do SONETO requer POESIA e TÉCNICA. O primeiro elemento reflete-se na essência inata do Ser Poeta, indispensável, e, o segundo é, nada mais nada menos, o instrumento para o embelezamento útil, necessário e, algumas vezes, até voluptuário da composição poética. Contudo, cabe ao SONETISTA desenvolver a sensibilidade para atingir o equilíbrio entre esses dois primordiais elementos, dentro do ideal de perfeição.
Inicialmente, os versos, quando dispostos de forma metrificada nos poemas – e percebe-se quando há essa intenção do poeta, pois as normas seculares existentes que deixam claro esse propósito do operador da arte escrita – são separados em sílabas poéticas, que diferem das sílabas gramaticais. O SONETO deve ser disposto com versos de forma padronizada e criteriosa, rica, isto é, com VERSOS ISOMÉTRICOS (mesma quantidade de sílabas poéticas em todos os versos da composição poética escrita) e jamais HETEROMÉTRICOS (variação, ausência de padrão, da quantidade de sílabas poéticas no verso de uma composição).
Para comprovar o metro do verso e seu padrão na composição bem como, por extensão, descobrir a batida rítmica de cada verso, é imprescindível dominar, antes de tudo, a TÉCNICA DA ESCANSÃO. A ESCANSÃO é o “RAIO-X” de cada verso, uma espécie de “dissecação” do mesmo, que possibilita enxergar por dentro a estrutura real de cada linha poética escrita, sílaba a sílaba, e até a intenção (ou perdição) técnica do operador da arte escrita, identificando, simultaneamente, em que ritmo está disposto ou se há (a triste e lamentável) ausência de ritmo, fator que empobrece consideravelmente a sonoridade, quando torna surda de melodia a composição poética que utiliza da métrica nos versos.
No verso, as sílabas poéticas são separadas pelo fonema e, desta forma, quando há encontro de vogais deve uni-las, mantendo numa mesma sílaba poética (Elisão ou Sinalefa), mas há critérios específicos, caso a caso, para executar Elisões e Sinalefas (explicitado mais adiante) os quais só podem ser melhor depreendidos aliando a teoria à prática.
SISTEMAS DE VERSIFICAÇÃO
A poesia nasceu oralizada, isto é, cantada, quando os poetas da época, os Aedos, na Grécia antiga, apresentavam suas composições líricas, religiosas ou épicas, o que comprova a essência da poesia com verso pautado pela MÉTRICA musicada, isto é, também com RITMO, pois eram marcadas pelo Pé, a verdadeira unidade rítmica do poema.
SISTEMA GRECO-LATINO: formado por Pés, no qual se alternam sílabas longas e breves no verso;
SISTEMA NEO-LATINO: a contagem das sílabas não ocorre pelo número de Pés, mas pelo número de sílabas fonéticas no verso;
SISTEMA PORTUGUÊS: a contagem das sílabas poéticas ocorre até a última sílaba tônica do verso;
Uma das regras básicas da escansão, no que tange ao encontro de vogais, é saber o seguinte:
REGRA GERAL DE ELISÃO OU SINALEFA (simploriamente, é o Metaplasmo de Supressão de Fonemas na ocasião de encontro de vogais ao final de uma palavra e início de outra, para formação de uma só sílaba poética, mas trataremos adiante deste tópico ao falar dos tipos de Recursos de Versificação):
Átona c/ átona= junta
Átona c/ tônica= junta
Tônica c/ tônica= separa
Tônica c/ átona=separa (mas alguns casos pode unir);
Existem vários metros de versos e, no caso do
soneto, os mais conhecidos são:
7 sílabas poéticas: Heptassílabo ou Redondilha Maior;
8 sílabas poéticas: Octossílabo;
9 sílabas poéticas: Eneassílabo;
10 sílabas poéticas: Decassílabo;
11 sílabas poéticas: Hendecassílabo;
12 sílabas poéticas: Dodecassílabo (estrutura do Soneto
Alexandrino);
O VERSO DECASSÍLABO é o metro mais usado, ou seja, o clássico, no Soneto junto com o Alexandrino. Conta-se as sílabas poéticas de um verso até a sua última sílaba tônica (posto em caixa alta para melhor identificação), seguindo o padrão ditado pelo Sistema de Versificação Neo-Latino e Português (por Antônio Feliciano de Castilho, com o Tratado de 1851), concomitantemente.
Exemplos de verso Decassílabo:
“Última flor do Lácio inculta e bela” -> Escansão: Úl/ti/ ma/ flor/ do/ Lá/cio in/cul/ta e/ BEla “Amo-te assim, desconhecida e obscura” -> Escansão: A/mo/te a/ssim/ des/co/nhe/ci/da e obs/CUra
RITMOS NO VERSO DECASSÍLABO:
O RITMO é importantíssimo! Elemento primordial que concede ao verso uma toada própria com harmonia e, se padronizado em toda a composição, emana agradável melodia, essência do verdadeiro SONETO CLÁSSICO.
Os VERSOS DECASSÍLABOS podem ser encaixados nos seguintes ritmos, pelas teorias literárias patentes: HEROICO (e suas variações), SÁFICO (e suas variações), MARTELO AGALOPADO, GAITA GALEGA, PENTÂMETRO IÂMBICO, IBÉRICO ou ESTOICO.
Por ora, pedimos a vênia para uma breve pausa e, assim, daremos o devido seguimento neste assunto de importância crucial para a cadência melódica no SONETO, no próximo artigo da THE BARD, aqui na Coluna do FÓRUM DO SONETO, tratando e discorrendo este tópico – O RITMO – da melhor forma, isto é, minuciosamente.
Até o próximo artigo, amigos leitores!
Avante!
Por Ricardo Camacho Idealizador, Fundador e Presidente do FÓRUM DO SONETO