VOZES DO UMBRAL – Por Que Gostamos do Que Gostamos?

VOZES DO UMBRAL – Por Que Gostamos do Que Gostamos?

Por Que Gostamos do Que Gostamos?

 

“Às vezes, falo diante de grupos de pessoas interessadas pela escrita ou pela literatura e, antes que termine o tempo das perguntas e respostas, alguém sempre se levanta e indaga: — Por que você escolhe escrever sobre temas tão horríveis? Normalmente, respondo com outra pergunta: — Porque você acha que eu tenho escolha?”

Stephen King, “Sombras da Noite”.

 

Os antigos comerciantes chineses, enquanto mostravam suas mercadorias, mantinham-se atentos aos olhos dos clientes. Quando suas pupilas dilatavam, sabiam que podiam aumentar o preço.

Quando nos sentimos atraídos por algo, nosso corpo responde, nossos sentidos se aguçam. O que fazemos com o que sentimos é uma opção. O que sentimos, não. É magnético.

Eu tinha por volta de doze anos quando fui irremediavelmente capturado pela literatura de terror. Lia uma média de seis livros por mês, às vezes, mais. Claro que isso não veio sem custos. Meus estudos afundaram e minha vida social foi reduzida a um mínimo. Meus hormônios pré-adolescentes só eram aquietados com quantidades descomunais de masturbação.

Para quem olhava de fora, poderia parecer um problema, mas eu estava me divertindo. Não refletia sobre as motivações nem me importava com as consequências da minha obsessão. Eu só queria mais.

Por que gostamos do que gostamos? Por que alguns de nós tiram diversão daquilo que apavora, revolta ou enoja outros? Somos complexas colchas de retalhos de emoções, pensamentos, lembranças e sonhos – além de vestígios genéticos e espirituais de nossos antepassados. Vemos algo e algo em nós responde. Odeia ou adora. É orgânico. E, agora, com o advento da conectividade, sabemos: não estamos sozinhos.

O leitor brasileiro, há muito, aprecia o horror. Mas vivemos um momento único. Talentos fervilham por todo lado e as editoras, mesmo com grande atraso, começam a dar a eles a atenção que merecem.

O Jabuti, o mais conceituado prêmio literário do país, lançou, no ano passado, a categoria “romance de entretenimento”, destinada justamente a premiar obras que, mesmo não se enquadrando naquilo que usualmente se define como “alta literatura” são amadas há muito pelo público leitor brasileiro. Entre os finalistas, romances de horror, suspense, ficção científica, policial.

A ABERST – Associação Brasileira de Escritores de Romance Policial Suspense e Terror – cresce em tamanho e relevância a cada ano que passa. Assim como o Prêmio Aberst, talvez a premiação mais importante da literatura de gênero nacional.

Os leitores precisam ser informados do que está acontecendo e é para isso que estamos aqui. Para com nossa pequena, modesta lanterna, tentar dar a você um vislumbre do que está acontecendo nas trevas da literatura de horror brasileira.

Nossa coluna não poderia estrear em um mês mais adequado, na esteira daquele que, talvez, seja o dia mais importante do ano para os fãs do horror: O Dia das Bruxas, ou Halloween. Pegando a deixa, trazemos o delicioso artigo “A Bruxa, O Feminismo e O Horror” da escritora de terror e tradutora Mia Sardini, autora de 8 livros, dentre eles “Quarto 502”, bestseller na Amazon Brasil por mais de um ano consecutivo, e “As Vozes Sombrias de Irena”, finalista do IV Prêmio Aberst – 2021.

Trazemos também um conto daquele que vos fala: “Para Pegar Um Pássaro”. Ele nasceu de uma inspiração matinal tão forte que pulei da cama para começar a escrevê-lo. Gostei do resultado. Espero que ele te incomode, te assombre, te revolte. Aquelas emoções que, você sabe, nos fazem voltar a esse tipo de leitura, sem que saibamos muito bem o porquê.

Puxe uma cadeira e seja bem-vindo.

Por Jorge Alexandre Moreira

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