As fronteiras entre as telas e os palcos se fundiram no decorrer da pandemia, onde a arte se utilizou dos recursos e ferramentas tecnológicas para existir e resistir. Atualmente com o processo de vacinação da população, as peças, salas de cinema e os eventos culturais estão voltando gradativamente a serem presenciais, mediante certos protocolos de saúde exigidos. Mesmo com o retorno paulatino de atividades presenciais coletivas, ainda paira no ar a sensação de que nunca seremos os mesmos. Com centenas de mortes ocorridas durante este período e o descaso governamental, muitos perderam e ainda perdem entes queridos para o vírus covid-19.
O tempo em clausura em função da quarentena, aliado a terrível crise econômica, acaba também por potencializar o crescimento de condições e transtornos da psique, como a depressão e a ansiedade, atingindo uma parcela estrondosa da população. Quando a tela se torna um lugar seguro e confortável, como fazer o público retornar a frequentar os eventos culturais presenciais?
A cultura faz parte das manifestações sociais e políticas de uma sociedade, ela é um aspecto essencial de um povo e se apresenta em diferentes formatos. A cultura também está presente nas diversas camadas sociais, mesmo sendo muitas vezes disseminada e atrelada a uma elite, que escolhe quais manifestações culturais são de bom gosto ou não. Um país como o Brasil, possui uma cultura rica e diversa, fruto dos muitos povos que vieram para cá de outros continentes e dos povos originários indígenas. Mesmo sendo um país tão plural, ainda existe um descaso muito grande sobre a importância do fomento a cultura.
Os editais são uma forma conhecida para que diferentes artistas, de diferentes classes sociais e regiões, possam ser contemplados em seus projetos culturais. O número de editais, disponibilizado anualmente, é o suficiente para um país de um tamanho continental como o Brasil? E esses editais são de fato acessíveis para as diferentes camadas da população? Se a cultura é tão importante e tão intrínseca para a natureza humana, não deveriam haver mais incentivos públicos e privados para fomentar as diversas manifestações culturais? Como fazer com que os eventos culturais sejam frequentados por pessoas com baixo poder aquisitivo? Como incentivar a população a frequentar espaços e eventos culturais? São questionamentos que como artista brasileira me vejo constantemente fazendo.
Não tenho respostas para todos estes questionamentos, mas a postura que assumo é de auxiliar o máximo que posso aos artistas do meu entorno. Comprar livros de escritores e escritoras, assistir as peças de coletivos e grupos, incentivar o cinema nacional, não apenas o de grande nicho, mas aquele feito de maneira independente e sem recursos. Assistir e ouvir as artistas musicais, enfim, fomentar e viver arte como um todo. Não apenas o que acreditamos ser de um bom gosto estético ou não.
Artistas existem e lutam muito para sobreviver em meio a um período tão catastrófico de crise sanitária e má gestão governamental. A cultura é tão essencial para a vida quanto os outros setores de base que fundamentam uma sociedade. E o que seria da vida sem arte? O que seria da vida pandêmica sem a arte para nos fazer ressignificar a dor? Desta maneira, quando for questionado se o artista é um agente ativo em uma sociedade, reflita sobre o que seria da vida sem a arte.
Por Ananda Scaravelli