MÚSICA – O Trabalho do Músico: da música para todas as artes

MÚSICA – O Trabalho do Músico: da música para todas as artes

 Saudações caros(as) leitores(as)!

 Mais uma vez inicio esta coluna musical vos agradeço imensamente pela leitura e por todo carinho que recebo através de vossas mensagens. É uma grande alegria e enorme satisfação poder fazer parte deste magnânimo projeto de disseminação de arte e cultura que é a revista The Bard. No presente artigo desta edição da nossa amada revista, vos escrevo um pouco sobre o trabalho do músico e, expandindo aqui também para as demais artes, o trabalho do artista.

 Há, ainda hoje, muita gente que acha que artista não deve receber dinheiro em troca de sua arte. Aliás, os termos “arte” e “artista” estão extremamente deturpados há tempos. Já escrevi sobre isso por aqui, e, para não ser redundante, vou apenas deixar claro que há uma diferença abismal entre ser artista e os contemporâneos “influenciadores” e etc; bem como há uma enorme diferença entre arte e qualquer outra produção do entretenimento – normalmente financiadas por empresários, empresas e até mesmo pelo erário – produções essas que normalmente são moldadas de modo a criar uma atmosfera estéril, a qual não oferece nada de novo, nenhuma criação ou arte propriamente dita; o escopo final é meramente o de entreter o público.

 Porém, diferentemente do que grande parte desse público pode imaginar é que para que estes funcionários do entretenimento tão erroneamente chamados de “artistas” possam alcançar o sucesso, o dinheiro e a fama, é preciso acima de tudo que estes mesmos estejam em consonância com o seu patrocinador, agente, empresário e etc. Isso quer dizer que raramente ou nunca há imparcialidade, tampouco criatividade.

Arte é criação e expressão.

 Para o artista, o objetivo final é justamente o de se expressar através da sua criação. Arte de artesãos, de artistas de rua, de pintores, de músicos, escritores e poetas independentes, demonstram não somente suas criações e dedicação à arte como também sua isenção, autonomia e liberdade criativa, sem estar à mando deste ou daquele patrocinador.

 Ser um artista independente requer garra para vencer toda a sorte de dificuldades tanto para criar – com a falta de recursos e materiais – como para conseguir espaço para a divulgação da sua arte. Mas para quem é artista, isso jamais é encarado como um impeditivo para a arte. Fazemos o que fazemos simplesmente porque assim sempre o faremos. Como na máxima latina: “Ars gratia artis” (a arte pela arte) ¹

 Há anos vivo do que crio e do que produzo com minhas próprias mãos, seja como músico, artista plástico, artesão, editor ou poeta. Minha arte não é vendida! Vendo minha arte para poder produzir mais arte e para poder conseguir viver nos moldes desta sociedade construída nos moldes dos bens e do consumo, na impossibilidade de trocá-la para pagar impostos, comida e bebida.

 Nas três principais esferas artísticas nas quais atuo (música, literatura e artes plásticas) as dificuldades, embora distintas, se assemelham muito as de praticamente toda e qualquer forma de expressão artística. Na música, de muito tempo para cá, o espaço de apresentação e divulgação ficaram em uníssono e em quase exclusividade aos grupos liderados e majoritariamente organizados com vieses ideológicos ou até mesmo declaradamente político-partidários; não que o músico não possa, ou não deva, ter uma ideologia política, uma filosofia pessoal e etc. Porém, a música, como toda forma de arte, e como já mencionado anteriormente neste artigo – e na humilde visão deste que vos escreve – deveria estar além das engrenagens perniciosas do sistema. No artigo anterior aqui da revista, falei muito sobre o poder das letras e o engajamento das mesmas dentro da canção, sendo evidente que nesse caso a letra sim pode carregar muitos ideais, ideias e etc. No meu caso específico como músico, componho música, não canção, ou para utilizar um termo mais contemporâneo, ‘música instrumental’. Na indústria do entretenimento há claramente pouquíssimo ou quase nenhum interesse por esse tipo de composição. Um exemplo são os inúmeros comerciais que utilizam a dita (erroneamente) música clássica, até mesmo por conta de as mesmas serem livres de “copyright”, o que barateia os custos da produção.

 Num país como o nosso, um verdadeiro celeiro de grandes e talentosíssimos músicos, essa falta de reconhecimento e, principalmente, incentivo faz com que tantos grandes talentos tenham que acabar atuando em outras esferas, num quase ‘sufocamento’. Há pouquíssimos espaços destinados à músicos com trabalho autoral, baixíssimo orçamento ou editais para financiamento de produção e quase nenhuma divulgação para o grande público. Isso tudo, além de um tremendo absurdo, ainda leva essa nobre e potencial arte em criação ao oblívio.

 Cabe, entretanto, salientar que o advento da internet e das redes sociais derrubou muitos muros e abriu tantas portas para esses mesmos artistas que até então desfrutavam de um deserto danoso de oportunidades.

 Portanto, caro(a) leitor(a), iniciativas como a da revista The Bard que divulga gratuitamente tantos e tantos artistas e para um número cada vez maior de leitores, não somente devem ser exaltadas como divulgadas e estimuladas. O poder da colaboração é o poder da própria arte – infinito!

 Incentive a arte, seja na rua quando nos deparamos com artesãos e os artistas de rua, na internet quando descobrimos um novo artista, enfim, ajude esses artistas, e mesmo na impossibilidade de poder consumir da sua arte, ajude divulgando, compartilhando, incentivando e etc.

 Isso é um mero desabafo, não contra a indústria do entretenimento, mas sim a favor da arte!

 Incentive a arte e os artistas!

 ¹ Arte pela arte é um sistema de crenças que defende a autonomia da arte, desligando-a de razões funcionais, pedagógicas ou morais e privilegiando apenas a Estética. A origem desse conceito remonta a Aristóteles, mas só foi desenvolvido e consolidado em meados do século XVIII. Seu primeiro formulador foi Alexander Baumgarten, que criou a palavra “estética” em 1750, e a definiu como alheia à moral e até mesmo ao prazer. Kant logo em seguida aprofundou a questão dizendo que o prazer estético é desinteressado e não visa outras coisas além de si mesmo, o que encontrou apoio nas ideias de Schelling e Hegel. Em 1804, Benjamin Constant sumarizou o debate cunhando a expressão “arte pela arte”.

 Vos deixo como apêndice da coluna o poema autoral “O silêncio em foco” do meu primeiro livro de poesia o “Um boêmio confesso e sua poesia” de 2018.

“Por um minuto parei de tocar meu violão
Ante uma cessação de sentimentos
E consumido por um vazio atemorizante
Arrostei uma inexplicável indolência

Sem sustentação
Sem sustenidos
Nem com mil sóis
Salvei os bemóis

Nas cordas da vida
Não há mais vibração ou melodia
E nesta angústia
Nem a rebeldia

Não tem como tocar música sem sentimento
Hoje não sinto amor, não sinto raiva
Nem paixão, nem nada
O resultado disso é um silêncio ensurdecedor”

 E, como parte da divulgação da cultura cigana no Brasil, a União Cigana do Brasil compartilhou um trecho de uma apresentação minha de tempos atrás que aqui apresento à vocês.

 Espero que gostem!

Até uma próxima oportunidade,

Por RAFAEL PELISSARI

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