O MUNDO DA FANTASIA – O impacto da literatura fantástica em nosso imaginário

O MUNDO DA FANTASIA – O impacto da literatura fantástica em nosso imaginário

 Durante uma conversa com Paula Carminatti, autora de literatura fantástica que estreou com seu livro “Os talimãs de Jade”, me contou sobre uma palestra que a marcou: em um ambiente onde se discutia a importância da literatura e a comparação persistente dos prós e contras entre o Romance literário e a literatura de gênero, podemos tirar lições valiosas. Segundo Paula:

 “O gênero fantástico é um dos mais completos quando falamos sobre possibilidades na construção de histórias. Para os autores, é um imenso parque de diversões onde se pode explorar múltiplas possibilidades na construção de mundos e na criação das leis que irão regê-los. Mas se engana quem acredita que por ser divertido, o projeto desenvolvido neste gênero não exige um trabalho árduo. Muito pelo contrário. Justamente por envolver o imaginário é que se precisa tanto de pesquisas do “mundo real” para a história fazer sentido para a audiência. É o que na literatura chamamos de verossimilhança, ou seja, trabalhar o fantástico de modo que ele faça tanto sentido dentro daquele universo da história, que durante os momentos em que o leitor mergulha no livro, ou o expectador se concentra em um filme ou série, consegue se desconectar da realidade e se sentir dentro daquela história, como um amigo íntimo dos personagens, ou até mesmo na pele dos próprios protagonistas.”

 Tolkien e Lewis utilizam desse artifício: para se ensinar uma lição valorosa, quando apontamos o dedo aos erros da pessoa, diminui a probabilidade que ela absorva a lição, pois gera resistência. Ao nos distanciarmos das condições similares à nossa vida, porém mantem o problema em questão, é mais fácil gerar uma empatia e uma reflexão. Nos compadecemos da opressão aos hobbies no fim de O Senhor dos Anéis, compreendemos como a fé e o amor ao próximo é importante ao nos depararmos com as analogias em Narnia.

 “Muitas vezes injustiçado pela audiência menos acostumada às suas particularidades, o brilho da Fantasia vai além das cenas épicas de batalhas ou magia, e quando se analisa cada obra sob uma perspectiva mais aprofundada é possível notar que há mais semelhanças do que diferenças com o mundo em que vivemos. Temas como busca pelo autoconhecimento, construção da autoestima, autoconfiança, luta contra o preconceito, trabalho em equipe, busca pela família possível, resistência de um povo frente a alguma forma de poder autoritário e corrupto, e tantos outros, são temas comuns em nossa realidade, mas também comuns em obras fantásticas.” Contou ela.

 No Romance literário, histórias densas com o teor da realidade sempre foram valorizadas no Brasil, enquanto histórias em quadrinhos, romances juvenis eram considerados apenas um rito de passagem que era um chamariz para os leitores, porém sem valor artístico.

 “Muitos autores de obras tidas como comerciais, ou Ficção de Gênero, dentre elas Fantasia, Terror, Ficção Científica, Romance Romântico, dentre outros, já devem ter se deparado com comentários citando o termo “escapismo” e relacionando de uma forma depreciativa a estas obras, e aqui abro um espaço para contar sobre uma experiência que presenciei na Bienal do RJ em 2019. Três grandes autores de ficção de gênero falavam justamente sobre a importância destas obras, e mencionavam sobre o conteúdo que o leitor pode encontrar dentro de um livro “comercial”, e em determinado momento abriram espaço para perguntas por parte de quem estava assistindo o painel. Uma moça pediu o microfone e, ao invés de fazer uma pergunta, comentou sobre a importância do escapismo naqueles momentos em que a pessoa se dedica a uma leitura ou em assistir uma ficção de gênero. Comentou sobre como a realidade pode ser difícil, com todos os seus desafios diários, e naqueles momentos em que “tudo está tão demais”, escapar para um livro, para um filme ou uma série se torna uma espécie de férias momentâneas para nosso emocional se recuperar, respirar, e novamente se sentir pronto para continuar a luta.” Concluiu

 O Relato da Paula não é esclarecedor? Por vezes a literatura de fantasia é rebaixada a puro entretenimento, o que seria de nossas vidas sem o descanso, o relaxamento que o entretenimento proporciona, como estaríamos aptos a encarar as facetas sérias, obscuras, e muitas vezes debilitantes de nossa vida?

 Parafraseando Nietzche, precisamos da arte para não morrer com a verdade.

 E nossas doses de arte, pode vir através de mundos mágicos, seres fantásticos e raças imaginárias.

Paula Carminatti é escritora capixaba.

 

Por JOSI GUERREIRO

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