Sem versos
Sem realidade
Me agarro na acidez do tomate para existir
Na sua cor, perco o olhar
Sirvo na mesa ao relento pra tentar sentir o mundo
Cinza
Com uma penumbra de cobrir pássaros, assentando
Vai rápido a luz, sem amarelo
Nada de fios de lã sobre a pele
Nem mesmo embolados para gatos
Na cadeira fria, algodão tecido em cores
Afagos sintéticos
Com o perfume floral, finjo não me importar de ser quem sou
Sinto nas notas, perfeitamente cobrindo a derme
Sinto meu interior representado na superfície desse cheiro, que roça o rosto na pele
Visto meu estilo e gosto
Sou
De anéis frouxos
Unhas nunca feitas, e satisfeita
Se eu conseguir ultrapassar esse dia irreal
Talvez amanhã eu possa existir de novo
Absolutamente feita de coisas escolhidas com o tato e com sensações
Poderei andar e sentir o vento nos cabelos que gosto curto
Na roupa que gosto macia e solta
Na pedra de dizer humor
No relógio que mostra o tempo que não tenho, que perdi, que atrasei, ou aquele do agora
Nas orelhas sem brincos e nos pés de pisar macio
Essa é a elegância de me sentir
Se eu conseguir ultrapassar o dia de hoje
Amanhã quem sabe…
Por LUCY AMARY
Joinvile – Santa Catarina, Brasil