POETAS E POETISAS Afagos sintéticos por Lucy Amary

POETAS E POETISAS Afagos sintéticos por Lucy Amary

Sem versos

Sem realidade

Me agarro na acidez do tomate para existir

Na sua cor, perco o olhar

Sirvo na mesa ao relento pra tentar sentir o mundo

Cinza

Com uma penumbra de cobrir pássaros, assentando

Vai rápido a luz, sem amarelo

Nada de fios de lã sobre a pele

Nem mesmo embolados para gatos

Na cadeira fria, algodão tecido em cores

Afagos sintéticos

Com o perfume floral, finjo não me importar de ser quem sou

Sinto nas notas, perfeitamente cobrindo a derme

Sinto meu interior representado na superfície desse cheiro, que roça o rosto na pele

Visto meu estilo e gosto

Sou

De anéis frouxos

Unhas nunca feitas, e satisfeita

Se eu conseguir ultrapassar esse dia irreal

Talvez amanhã eu possa existir de novo

Absolutamente feita de coisas escolhidas com o tato e com sensações

Poderei andar e sentir o vento nos cabelos que gosto curto

Na roupa que gosto macia e solta

Na pedra de dizer humor

No relógio que mostra o tempo que não tenho, que perdi, que atrasei, ou aquele do agora

Nas orelhas sem brincos e nos pés de pisar macio

Essa é a elegância de me sentir

Se eu conseguir ultrapassar o dia de hoje

Amanhã quem sabe…

Por LUCY AMARY
Joinvile – Santa Catarina, Brasil

Pular para o conteúdo