Restava menos de uma hora, sessenta minutos, apenas. Eu lia Clarice, mas era você quem me preenchia; eu não entendia a lógica dos fatos e as palavras me pareciam, pela primeira vez, apenas palavras, perdi parágrafos inteiros e não eram quaisquer parágrafos, eram quarteirões de Clarice (você compreende? Era Clarice). Naquela manhã te li e senti algo estranho, diferente, o trânsito das borboletas estava incontrolável, acho que houve sobrecarga no sistema (emocional) e todas receberam sinal verde, passeavam por mim, livremente, migravam do estômago para o coração e, vez ou outra, alguma mais atrevida, me subia a garganta e me fazia nós em cócegas (acabei de sorrir, só por lembrar da sensação).
Te li, te vi, te ouvi, distante e me pareceu mais perto do que nunca, foi perfeito. Fui tomada por algum tipo de esperança e eu nos imaginava, perdida, sem jeito. Menos de meia hora e Clarice era, apenas, mais uma (olha o que você me fez, invalidando aquela que escreveu sobre nós, sem nos conhecer, antes mesmo de eu nos saber, quando nem mesmo éramos eu & você). Ainda escuto aquela música e o som da sua risada, foi naquele dia, antes do almoço, que eu te quis, como nunca quis nada; meus olhos passeavam, superficialmente, sobre Clarice, enquanto desejavam te mergulhar, profundamente; eu tentava ler “Todos os contos”, mas era o começo da única história que me prendia, me tinha e me inspirava.
Meu tempo acabou e a realidade já me chamava; não se preocupe, meu bem, a vida é mais que momento, somos capítulo novo, (des)envolvimento. Aprendi com Clarice, quando ela ainda me tinha, que “viver ultrapassa qualquer entendimento” (…)
Por Jéssica Sabrina