18 de março de um ano qualquer, Otacílio subia as escadas de sua casa, tropeçando entre pernas, suspendendo as calças e segurando no corrimão. A ânsia de vômito lhe acompanhava a cada novo degrau.
Não deu outra! Seu fôlego acabou e ele, da escada se quebrou.
Naquele momento, seu maior desafio era sobreviver ao olhar fulminante de sua linda mulher que lhe observava do alto da escada.
Cândida, estrategicamente apenas usou sua inteligência emocional e de pijamas desceu as escadas, segurou em suas mãos e lhe retirou os óculos amassados.
Otacílio, deveras envergonhado, a tempo percebeu sua “perda de visão”, do quanto sua bebida estava descolorindo seu relacionamento e o quanto estava perdendo-se de si mesmo.
Naquele instante, o casal pode se olhar sem as máscaras universais que lhe cabiam, sem as sombras dos seus egos e com a libertação de corpos e sentimentos derramados sobre o chão.
Livres, se amaram mesmo quando o cheiro desagradável atravessava aquele improvável momento de entregas carnais.
Sem vômito, a vida fica um chuchu.
Por EMANUELA LOPES
